Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 12, 2008

Maurren Maggi, nossa saltadora em Pequim

A saga de Maurren

O salto mais espetacular da vida de Maurren Maggi
foi voltar às pistas. Agora, falta medalha em Pequim

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Quem é quem: O desafio de Maurren Maggi em Pequim

No último fim de semana, a brasileira Maurren Higa Maggi venceu a prova de salto em distância no Meeting de Madri. Foi uma vitória especial. Não pelo resultado em si, que não tem a importância do bicampeonato pan-americano. Mas por ter deixado para trás a portuguesa Naide Gomes, campeã do último Mundial Indoor de Atletismo e uma de suas principais rivais na Olimpíada de Pequim. Maurren, 32 anos, está na disputa pelo pódio com Naide e com as russas Ludmila Kolchanova, dona do maior salto de 2008 até agora, e Tatiana Lebedeva, atual campeã olímpica. Será uma briga dura. Mas se há algo que não se pode negar é que Maurren sabe superar adversidades. Em 2003, afastada das pistas em razão de um ruidoso caso de acusação de doping, chegou a desistir da carreira. Não tinha forças para continuar. "Chorava toda vez que punha o pé na pista", lembra a atleta, que venceu na Justiça Desportiva brasileira alegando uso sem intenção. Ela afirma que a substância clostebol, proibida, estava numa pomada cicatrizante. No julgamento internacional Maurren foi suspensa por dois anos. Sem condições de suportar a pressão, abriu mão da defesa quando o caso foi à Corte de Arbitragem do Esporte, última instância de julgamento.

Longe do esporte, Maurren não podia nem ouvir falar em atletismo. Mergulhou de cabeça no relacionamento com Antonio Pizzonia, na época piloto de Fórmula 1 e atualmente da Stock Car. Foram morar juntos e tiveram uma filha, Sofia. "Foi o lado bom. Eu nunca interromperia minha carreira para ter filhos. Então, se não fosse esse problema, provavelmente não teria sido mãe", diz Maurren. Dois anos e meio após o trauma do doping, o fim do relacionamento com Pizzonia a fez decidir tentar a volta. "Fiquei sem saber o que fazer. E percebi que o atletismo é a minha casa, o meu lugar." Desde então vem colecionando vitórias importantes e, neste ano, se prepara para aquele que pode ser o salto mais alto de sua carreira: o topo do pódio olímpico.

Maurren é uma atleta singular. A começar pelo nome, dado pelo pai beatlemaníaco em homenagem a Maureen, mulher de Ringo Starr, e registrado com grafia errada pelo tabelião de São Carlos, interior de São Paulo. Com 1,73 metro e 62 quilos, tem um físico que não lhe confere nenhuma vantagem digna de nota em relação às principais concorrentes. Nélio Moura, seu treinador há catorze anos, lembra que, quando a conheceu, a achou apenas "comum". Depois, percebeu que o grande diferencial da atleta é a perseverança. "Sua maior vantagem é psicológica, não física", diz. "Ela sabe o que quer e tem uma força de vontade incomum." A maior prova disso foi a volta às pistas, em 2006. Depois de tanto tempo sem treinar, Maurren perdera 4 quilos de massa muscular. Teve de treinar como iniciante, partindo do zero – aos 29 anos. Ela enfrentou sem reclamar treinos pesadíssimos, com tempo e carga dobrados em relação à rotina normal de uma atleta de seu nível.

Em seis meses, seu desempenho melhorara tanto que Nélio decidiu inscrevê-la no GP Sul-Americano de Bogotá. Mas já não havia lugar nos vôos, e Maurren decidiu ir sozinha até o Panamá, de onde pegou um avião para a capital colombiana. A competição não era das mais difíceis. No entanto, naquele momento, foi o maior desafio de sua vida. "Prestes a saltar, pensei: ‘Meu Deus, o que estou fazendo aqui? Vou saltar menos que as juvenis!’". No fim o resultado surpreendeu até o próprio Nélio. "Quando ela me ligou e disse ‘voltei’, pensei logo que estava de volta ao Brasil, porque não conseguira chegar a tempo. Mas em seguida ela explicou: ‘Voltei a saltar. E ganhei!’ ".

Maurren teve a quem puxar. William Maggi, seu pai, também é exemplo de determinação. Desde cedo apostou na carreira da filha. Como a família tinha poucos recursos – ele era torneiro mecânico e sua mulher, professora –, não hesitou em vender seu kart, a grande diversão dos fins de semana, para financiar as primeiras disputas. Pai coruja de três filhos, acompanhou as aventuras da única menina na ginástica olímpica, apoiou sua mudança para o atletismo, vibrou com as primeiras medalhas, sofreu com a acusação de doping e a viu dar a volta por cima. Os dois sempre foram muito ligados.

Assim como o pai, Maurren valoriza a disciplina. Respeita horários, treina duro e não descuida da alimentação. Seu único ponto fraco é o chocolate. "Pedi ao nutricionista que me proibisse de comer qualquer coisa, menos chocolate", diz a atleta, que sonha em conhecer Xuxa e participar de um clipe de Ricky Martin. Acredita que tudo na vida se conquista com esforço. Foi assim que superou o trauma da acusação de doping e passou a considerá-lo uma oportunidade de crescimento. "Antes eu me achava muito madura, muito mulher. Hoje sei que não era nada disso. Agora, sim, estou madura e consciente. Sei o que quero da minha vida." Maurren acredita, também, na sorte. Para ajudar nesse quesito, agarra-se a dois amuletos. Um é o cachorro Leão – de pelúcia –, seu grande companheiro de pódio. O outro é Sofia, hoje com 3 anos, que mora com ela e é sua fã número 1. "Ela fala: ‘Mãe, não se esqueça de mim. Traga uma medalha’. Mas prefere a de prata, pois acha mais bonita", diverte-se a saltadora, que, aos 32 anos, cultiva esse doce dilema afirmando que qualquer uma será muito bem-vinda. "A medalha olímpica é a única que não tenho."



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Quem é quem

De volta às pistas olímpicas, a brasileira Maurren Maggi, recordista sul-americana em salto em distância, pretende repetir o sucesso do Pan do Rio, quando levou para casa a cobiçada medalha de ouro. Entre os desafios que irá enfrentar está o de superar a americana Brittney Reese, detentora da melhor marca da temporada na modalidade. Saiba quem são essas duas atletas e o que está em jogo para cada uma delas em Pequim.


Maurren Higa Maggi
Saltadora do Clube de Atletismo BM&F Bovespa
(São Paulo, SP)
32 anos (São Carlos, SP, 25 de junho de 1976)
1,73 metro de altura e 61 quilos
Índice olímpico para Pequim nas provas de salto
em distância e salto triplo
Técnico: Nélio Alfano Moura, 45 anos

Brittney Reese
Saltadora do Ole Miss Rebels, da Universidade
do Mississippi (Oxford, MS)
21 anos (Gulfport, MS, 9 de setembro de 1986)
1,76 metro de altura e 63,5 quilos
Índice olímpico para Pequim na prova de salto
em distância
Técnico: Joe Walker, 61 anos

Ser a primeira mulher brasileira a ganhar uma medalha olímpica em atletismo. Em sua modalidade, aparentemente, os ventos estão a favor. Com 6,91 metros, Maurren tem uma das melhores marcas do ano, ficando a meros 2 cm do melhor salto, realizado por Reese. Ambição Já no topo do ranking da temporada, o maior objetivo de Reese será superar a si mesma. Os 6,93 metros que a levaram para a liderança são também sua melhor marca pessoal. Em Pequim, segundo a atleta disse a VEJA.com, a expectativa é de "pelo menos uma medalha".
A estréia de Maurren nas Olimpíadas aconteceu em 2000, aos 24 anos. Apesar dos ótimos resultados obtidos em 1999, não passou da 25ª colocação em Sydney. Quatro anos depois, não pôde competir em Atenas por ter sido flagrada em um exame antidoping. Histórico em Olimpíadas Sem nenhuma participação em Olimpíadas, a americana pode justificar sua ausência nos Jogos devido a sua idade: 21 anos. Apesar da pouca experiência em eventos internacionais, Reese traz no currículo a participação no mundial de Osaka (2007), na 8ª colocação.
Salto em distância
Principal modalidade
Salto em distância
Maurren foi apresentada ao público mundial no Pan de Winnipeg, em 1999, ao levar a medalha de ouro no salto em distância (6,69m) e prata nos 100 metros com barreira (12,86m). De quebra, levou o título de recordista sul-americana. No salto em distância, inclusive, já era recordista, após ter saltado, naquele mesmo ano, 7,26m (sua melhor marca pessoal) em Bogotá. Em 2003, a brasileira chegou ao topo do ranking mundial, com os 7,06m conquistados em Milão. Após o episódio do doping, sua volta às pistas ganhou destaque com o ouro no Pan do Rio, ao saltar 6,84m, e com a medalha de prata no Mundial Indoor de Valência de 2008. Progressão Reese começou a ganhar destaque em 2004, nas competições regionais de atletismo. Em abril daquele ano, quando tinha apenas 17 anos, saltou 6,31m em Gulfport, sua cidade natal, no estado de Mississipi. Mas as grandes marcas só foram registradas alguns anos depois. Em 2007, a americana teve sua estréia em mundiais, no campeonato de Osaka, no Japão, ficando na 8ª posição, com 6,83m. Após fechar o ano com o melhor salto feminino do país, a atleta reafirmou sua excelência no campeonato nacional Indoor da NCCA de 2008, quando conquistou o primeiro lugar. Semanas depois, atingiu sua melhor marca pessoal (6,93m), em Baton Rouge, na Louisiana.
Segundo o treinador de Maurren, Nélio Alfano Moura, a brasileira é rápida em relação a suas maiores rivais. Além disso, o técnico considera que ela tem "um nível de força especial" para o salto e, que nesse quesito, "ela não perde para ninguém". Corpo A americana é uma "atleta magra e com uma habilidade natural para o salto", diz o técnico de Reese, Joe Walker. Ele destaca que a modalidade é uma competição de velocidade e que Reese está "rapidamente se tornando uma excelente saltadora".
O treinamento de Maurren consiste em sessões intercaladas de musculação, saltos e fisioterapia. Ela treina seis vezes por semana (de segunda a sábado) no parque do Ibirapuera, em São Paulo, das 8h30 até o meio-dia. Treinamento O foco dos treinamentos é no salto em distância, embora a americana também faça salto em altura e salto triplo. Ela treina de segunda a sábado, intercalando os dias com sessões de corrida, musculação e técnicas de salto.
O salto
Apesar de relutante na hora de apontar as fraquezas da pupila, o técnico Nélio Moura considera que ela tem tido problemas com a "precisão na abordagem", ou seja, tem saltado um pouco atrás da linha de medição ou tem queimado bons saltos. Ela também pode melhorar o desempenho na fase aérea, o que a deixaria mais equilibrada e propiciaria uma melhor posição de queda, além do ganho de alguns centímetros, diz Moura. Ponto fraco De acordo com o treinador de Reese, Joe Walker, a americana ainda está aprendendo a sincronizar de forma adequada as duas últimas passadas. Para o técnico, ela ainda pode melhorar gradualmente algumas etapas, como a corrida, o penúltimo passo, o impulso final e a subseqüente aterrissagem. "Mas nada disso é realmente ponto fraco", defende Walker. "Apenas que podem melhorar com o tempo e com os treinamentos, afirma.


Desde 2007, quando venceu a medalha de ouro no Pan do Rio de Janeiro, a paulista não sai das primeiras colocações. Em agosto do ano passado, ficou em quinto lugar no mundial de Osaka, com 6,95m, e em março de 2008, ganhou a medalha de prata no Indoor de Valência, com 6,89m. Em maio, estabeleceu sua melhor marca do ano, com 6,91m, ficando em primeiro lugar no GP Rio Caixa de Atletismo.
Títulos recentes

A 8ª posição no campeonato Mundial de Osaka, em agosto do ano passado, foi a maior conquista de Reese em nível mundial. O bom desempenho de 2007 conferiu à americana o título de atleta regional do ano, de acordo com os parâmetros da conferência esportiva do sudeste dos Estados Unidos. Em março de 2008, superou o título ao vencer a primeira colocação no campeonato nacional da NCAA.
Quero voltar a ser número um do mundo.
Em entrevista ao portal UOL, poucas semanas antes do Pan do Rio, em 2007.

Essa noite marca o recomeço da minha vida.
Ao comemorar a conquista da medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos.
Frases Se der o melhor de mim em Pequim, me sairei bem.
Em entrevista concedida a VEJA.com.

Nunca esperei aquilo, porque ninguém na minha família sabe nada de atletismo.
Em entrevista ao jornal The Clarion-Ledger, sobre a marca de 6,93m.


Segundo a própria atleta, ela está vivendo a melhor fase de sua vida atualmente. Entre os momentos que contribuem para isso estão a conquista da medalha de prata em Valência, em março de 2008, e a conquista do ouro no Pan do Rio, em julho de 2007.
Melhor momento

Reese considera que o melhor momento de sua carreira foi durante o campeonato mundial de Osaka, em agosto de 2007, quando ela conseguiu 6,83m no salto em distância. "Eu fiquei muito emocionada, porque eu não esperava aquilo de forma alguma", justificou.
Em 2003, quando foi flagrada em um exame antidoping. Apesar de justificar o resultado pelo uso de um creme para depilação, Maurren foi impedida de participar do Pan de Santo Domingo em 2003 e, no ano seguinte, das Olimpíadas de Atenas. Pior momento Para a americana, a excitação decorrente do salto registrado em Osaka não pôde ser considerada o início de uma boa fase. Cerca de um mês depois, o falecimento de um colega de seu time veio o ser o grande marco negativo de sua vida.


Maurren carrega no nome uma homenagem um pouco frustrada aos Beatles. Era para ser Maureen, como a primeira mulher do bateirista Ringo. Porém, o mal-entendido no cartório resultou no nome que hoje dispensa apresentações. Para o Brasil, ela ganhou esse status ao vencer o Pan de Winnipeg, em 1999, quando subiu no degrau mais alto do pódio com um bichinho de pelúcia nos braços. Nos anos seguintes, também foi ouro na Universíade (2001) e no Grand Prix de Paris (2002). Maurren estava pronta para ser confirmada como orgulho da nação no Pan de Santo Domingo, quando sua carreira virou às avessas. Flagrada no antidoping, ficou suspensa do esporte por dois anos. Retomou a carreira em 2006, já em boa forma: venceu o Meeting de Bogotá, saltando 6,84m. Em 2007, voltou a ganhar o ouro no Pan, mas desta vez pôde comemorar em casa. Fechou o ano como a quinta melhor colocada do mundo e agora, na posição de melhor saltadora do país, vai tentar o ouro em Pequim.
Trajetória

Reese começou a se interessar pelo esporte quando estava na quarta série. Sempre apaixonada pelo basquete, foi apenas durante o colégio que passou a dar mais atenção para o atletismo. O foco não mudou à toa. Logo em seu primeiro salto e sem técnica alguma, a americana registrou 5,48m. Ela lembra que seu treinador na ocasião, Prince Jones, ficou tão surpreso que sugeriu: "Por que você não volta e tenta isso de novo?". Reese voltou e, desde então, tem ido cada vez mais longe, mesmo após dois anos de afastamento das pistas. Nesse período, quando estudava no Gulf Coast Community College, aproveitou o fato de a instituição não ter times de atletismo para dedicar-se à antiga paixão: o basquete. Foi convencida a voltar para às pistas em 2006, ao ganhar uma bolsa na Universidade do Mississippi. Lá, passou pelo processo de mudança do corpo - de jogadora de basquete para o de saltadora - e, rapidamente, atingiu as melhores marcas do país e do mundo na prova.
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