Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 19, 2008

Celso Ming - Agricultura segue confiante p

Enquanto espera pelas primeiras chuvas, o agricultor se prepara, com otimismo, para o início do plantio da próxima safra, que promete bater recordes.

As projeções do Plano de Safra do governo, divulgado no início deste mês, e das consultorias do setor apontam para uma produção de grãos de cerca de 150 milhões de toneladas no País, volume 5% maior do que o da produção anterior (veja o gráfico).

A liberação de R$ 78 bilhões em financiamentos para a próxima safra, 12% a mais do que no ano passado, é bom lubrificante, mas é insuficiente para contrabalançar o enorme aumento de custos que o especialista André Pessoa, sócio-diretor da Agroconsult, calcula em 50%.

Além disso - explica ele - a volatilidade do mercado de commodities afugentou as traders agrícolas, que na safra anterior de soja financiaram nada menos que 31% dos custos de produção (cerca de R$ 7 bilhões). Ou seja: o produtor terá de arranjar mais recursos próprios para tocar a lavoura.

Uma das conseqüências desse descompasso será uma concentração ainda maior do setor. "Grandes produtores devem ocupar os espaços daqueles que não conseguirem crédito suficiente", lamenta Pessoa.

José Carlos Hausknecht, da MB Agro, é menos pessimista. Entende que, apesar do câmbio adverso e da escalada dos custos, o agricultor está bem mais capitalizado e vai responder com entusiasmo.

Mas o bom mercado lá fora não é tudo. Para produtos não exportáveis, como feijão, arroz e amendoim, também pesa na tomada de decisão de plantio a perda de poder aquisitivo do consumidor interno, em conseqüência da inflação bem mais alta, adverte Chau Kuo Hue, analista da LCA Consultores.

Sinal inquestionável de que o setor segue confiante vai apontado nas estatísticas da Anfavea, a associação que cuida dos interesses do setor de veículos e também dos de máquinas agrícolas. Elas mostraram em junho uma expansão de 50,5% nas vendas internas de máquinas agrícolas em comparação com os números de junho de 2007. Apenas no primeiro semestre deste ano foram vendidas 25,4 mil unidades, quase o mesmo que nos 12 meses de 2006 e 52,4% a mais do que em igual período de 2007.

"Dá para dizer que, se 2008 foi um ano muito melhor que 2007, o próximo deverá ser ainda melhor." É a opinião de Paulo Kowalski, gerente de vendas da John Deere, uma das maiores fabricantes nacionais de tratores, colheitadeiras e plantadeiras.

O excesso de chuvas e inundações em junho prejudicaram o início do plantio de soja e de milho no centro dos Estados Unidos. Enquanto isso, os produtores australianos de trigo temem pelas conseqüências da seca. São fatores que devem manter os preços em alta no mercado internacional.

"As incertezas próprias do setor continuam as mesmas. Mas o sentimento geral é de confiança. O produtor está preparado para mais uma excelente safra e ótimos preços", diz Hausknecht. Se essa situação se confirmar, mais dinheiro circulará no interior. Bom para a produção e bom para o emprego.

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