EDITORIAL |
O Globo |
3/1/2008 |
Ninguém torce contra a libertação de reféns em poder da narcoguerrilha colombiana Farc. Mas é lamentável que essa questão humanitária sirva de estratégia marqueteira para Hugo Chávez recuperar prestígio e protagonismo muito abalados no final de 2007 e neste início de 2008. Afinal, ele levou um pito público do rei da Espanha e perdeu o referendo popular que lhe daria poderes absolutos na Venezuela. Quem pode ser contra a libertação de reféns, alguns há anos em duro cativeiro, para servir como moeda de troca das Farc? Mas não se deve esquecer que a operação anunciada por Chávez, e que agora parece fazer água, foi concebida como show de propaganda e autopromoção. Teve também um caráter de desagravo ao caudilho venezuelano, desautorizado pelo presidente Uribe, da Colômbia, ao quebrar as regras acertadas para atuar como mediador. Os objetivos chavistas se mantêm - assumir um papel de liderança continental, exportando o modelo populista-bolivariano para o maior número possível de países da região. Mesmo que enfrente graves problemas econômicos na Venezuela, como o desabastecimento, resultado do controle de preços, e a inflação - ontem o governo chavista cortou três zeros para criar uma nova moeda, o bolívar forte. O Brasil tem triste memória dessas operações para escamotear o desajuste das contas nacionais. O governo brasileiro precisaria tomar cuidado com as cartadas de marketing político de Hugo Chávez. É melhor que sejam de cunho pessoal as declarações do assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, enviado por Brasília como um dos observadores do resgate - afinal, não realizado. Garcia apoiou uma eventual operação clandestina para viabilizar a libertação. E mesmo que seja uma opinião pessoal, são declarações lamentáveis. Infelizmente, é muito pouco provável que as Farc soltem reféns em operações estrepitosas como a montada por Chávez. Mas não se deve jogar fora o precedente de um caminho negociado, com a participação de outros países interessados, como Brasil, Argentina e França. Sem perder de vista que, em relação às Farc, a solução é a sua renúncia à violência e sua transformação num partido político legal. Ou a capitulação. |
Entrevista:O Estado inteligente
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