O Globo |
16/10/2007 |
A pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem reafirma a paradoxal situação em que se encontra o governo brasileiro: ao mesmo tempo em que o presidente Lula tem a aprovação de 61,2% dos brasileiros, mantendo praticamente inalterada sua posição do segundo turno da eleição presidencial, menos da metade aprova seu governo. Pela avaliação das áreas cruciais de governo - saúde, educação, segurança pública, emprego e renda - não dá para adicionar os 35,9% que consideram o governo apenas regular aos 46,5% que o consideram ótimo ou bom. A avaliação setorial da população mostra bem a situação: se a maior parte dos entrevistados diz que emprego e educação melhoraram, essa avaliação não tem, no entanto, a aprovação da maioria, que se divide entre as opções piorou ou ficou como estava. Já com relação à saúde e à segurança pública, a grande maioria acha que pioraram, e, quanto à renda mensal, há um equilíbrio entre os que consideram que melhorou e piorou. Não há dúvida de que a ampla maioria considera que esse governo é regular ou ruim, numa visão crítica que se aproxima mais do negativo do que do positivo. Sobressai da pesquisa um fato que já é do conhecimento geral: o presidente Lula é o sustentáculo político de seu próprio governo. Não é de estranhar, portanto, que quando se fala de sua sucessão, apareça exatamente o quadro inverso, isto é, sua base parlamentar não tem nenhum nome que se destaque na preferência da população, que coloca nos três primeiros lugares candidatos tucanos: o governador de São Paulo, José Serra, o ex-candidato à Presidência Geraldo Alckmin e o governador de Minas, Aécio Neves. O primeiro representante da base política que hoje apóia o governo é o deputado Ciro Gomes, do PSB, que aparece em quarto lugar. O PT, partido oficial do presidente Lula, tem vários candidatos, mas todos inexpressivos: a ex-prefeita Marta Suplicy é a mais bem colocada, e mesmo assim aparece com apenas 2,2% das preferências. Os demais candidatáveis petistas têm entre 1,5%, como o ministro da Justiça, Tarso Genro, e a chefe do Gabinete Civil, Dilma Rousseff, com míseros 0,7%. No mesmo nível estão candidatos do PMDB, como o governador do Rio, Sérgio Cabral, que aparece com 2% de preferências, e o governador do Paraná, Roberto Requião, com 1,5%. Não é de espantar que o presidente Lula insista sempre que pode na possibilidade de o governador de Minas passar para o PMDB e virar o candidato da base aliada. Nada indica que essa mudança acontecerá, ainda mais neste momento em que tudo indica que o TSE estenderá aos postos majoritários a interpretação de que o mandato pertence ao partido, e não ao candidato. Mesmo sem impedimento legal, no entanto, o governador mineiro já havia decidido que um movimento político desse porte só lhe traria prejuízos futuros, a começar pela possibilidade sempre presente de parte do PMDB não aceitá-lo como candidato. No PSDB, ele tem apenas um adversário de peso, o governador de São Paulo, José Serra. E, mesmo que perca a indicação desta vez, será sempre uma alternativa real do PSDB. Já no PMDB, Aécio Neves teria à frente de si a divisão eterna do partido e, mais à frente, a quase certa resistência petista. Na pesquisa, o governador paulista José Serra é o que aparece como o mais popular entre os possíveis candidatos, e o único tucano que venceria uma disputa com o deputado Ciro Gomes, que é o melhor candidato da situação. Ciro perderia para Serra de 30% a 22%, mas venceria Aécio Neves de 28,3% a 20,5%. Esses números mostram que Serra conseguiria reunir em torno de sua candidatura quase todos os votos dos eleitores do PSDB, enquanto Aécio dobra sua votação, mas não une o eleitorado tucano. Como Alckmin deve disputar a prefeitura ou o governo de São Paulo, a disputa deverá ocorrer entre os dois governadores tucanos, e Serra até o momento é o que aparece na frente em todas as pesquisas, o que lhe confere o papel de favorito, mas não o de candidato natural. Tudo dependerá de como se desenvolverão as negociações internas, havendo desde já um consenso: para vencer a eleição de 2010, é preciso não repetir os erros de 2006, quando o partido se dividiu na escolha do candidato e depois não teve fôlego para fazer uma campanha vitoriosa. O sonho de consumo da direção partidária seria uma chapa Serra-Aécio, o que transformaria, nos moldes americanos, o vice Aécio no candidato natural à sucessão. Como essa chapa parece inviável, pois o governador de Minas preferiria ser candidato ao Senado no caso de não ser o candidato tucano à Presidência, será preciso habilidade política de ambos para definir o candidato sem abalar as estruturas partidárias e perder a chance de voltar ao poder federal na ausência de Lula na disputa. O próprio Lula mostra-se descrente da possibilidade de transferir votos na mesma proporção de sua popularidade, e a pesquisa Sensus confirma essa dificuldade, embora mostre-o como um cabo eleitoral de primeira. Nada menos que 10,8% dizem que um nome apontado por Lula seria o único em quem votaria, o que dá a um candidato petista de cinco a dez vezes mais votos do que qualquer deles tem hoje. Além disso, outros 25,4% dizem que "poderiam votar" num candidato apoiado por Lula. Por isso, Lula insiste tanto em que sua base partidária tenha um só candidato. Pelo que a pesquisa mostra, se esse candidato fosse Ciro Gomes, teria chances reais de vitória. Como o governo ter candidato único parece mais inviável do que a chapa tucana Serra-Aécio, tudo indica que somente no segundo turno Lula terá chances de tentar usar sua popularidade a favor de um candidato, que a essa altura já não será o da base aliada atual, que quase certamente estará dividida em busca da expectativa de poder mais provável. |
Entrevista:O Estado inteligente
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