Nelson Jobim chegou de terno e gravata, na noite de terça-feira, para o jantar na casa do senador goiano Demóstenes Torres. Mas a expressão beligerante informava que a alma seguia trajando o uniforme de guerreiro de selva usado pelo ministro da Defesa na demorada visita à Amazônia. Era a cara de quem quer briga. Conseguiu o que queria ao topar com o deputado federal Rodrigo Maia, presidente do DEM.
Com voz ríspida, cobrou do parlamentar do Rio (a quem se referiria, no restante da noitada, como "esse guri de merda") explicações para a nota, divulgada pelo blog do partido, sobre o passeio na floresta. Jobim achara sarcásticos demais o tom e, sobretudo, o título: O canastrão e a sucuri.
Se os bichos falassem (e conhecessem alguma coisa de cinema), a cobra fotografada nas mãos do general imaginário deporia a favor de Rodrigo Maia. Ela decerto teria preferido posar para a eternidade ao lado de Johnny Weissmuller no papel de Jim das Selvas. Mas o destino resolveu que ficaria conhecida como parceira acidental de Jobim das Selvas.
À falta de uma depoente desse porte, o deputado argumentou que a direção do DEM não interfere na confecção do blog. O ministro foi à tréplica com um caprichado minueto do desdém: soltou uma baforada no charuto, virou as costas a Maia e puxou conversa com a senadora Roseana Sarney.
Nenhum ator, especialmente um artista esforçado como Jobim, aceita com placidez o enquadramento na subcategoria dos canastrões. Mas o título debochado foi só o botão que fez eclodir o som da fúria. O ministro está irritado por ter voltado a lidar com o Brasil de verdade.
Devolvido aos barulhos de uma guerra que fingira ter vencido, teve de curvar-se à evidência: o apagão aéreo continua. Milton Zuanazzi segue na chefia da Anac. As empresas fazem o que querem. Os aviões não decolam nem pousam na hora. O tamanho das poltronas não aumentou.
Congonhas é o pesadelo de sempre. A ligação com Cumbica e o trem-bala para Viracopos permanecem no campo dos sonhos. Pilotos e controladores de vôo não conseguem comunicar-se. Qualquer garoa imobiliza multidões nos aeroportos conflagrados e escancara o colapso da aviação civil. Na terça-feira, eram esses os problemas que afligiam Jobim.
Melhor ir-se embora para a pasárgada na floresta. Lá é possível brincar de encantador de sucuris. Lá os anfitriões são tão gentis que não molestam o comandante a passeio com relatos sobre a falta de dinheiro até para alimentos, balas de fuzil, reposição de uniformes. Lá é permitido acreditar que sobram aviões de combate, navios de guerra, submarinos e, claro, soldados.
"A Amazônia tem dono", declamou Jobim. Nenhum general avisou ao viajante que o dono não está preparado para proteger aquela imensidão. Nenhum general sugeriu-lhe a imediata eliminação das carências que atormentam as Forças Armadas. Ninguém contou ao ministro que a Amazônia está tão indefesa quanto um passageiro de avião.
Cabôco Perguntadô
O embaixador Pedro Mosquera informou que as portas de Cuba estão fechadas para parlamentares interessados em conferir a situação dos pugilistas Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, deportados pelo governo brasileiro quando tentavam, no Rio, viajar para a liberdade. O Cabôco acha que o privilégio de visitar a dupla está reservado ao ministro da Justiça, Tarso Genro, fiador da tese segundo a qual os atletas voltaram à ilha por vontade própria. E pergunta: Tarso já marcou a data da viagem?
A ave de bons sentimentos
Ao livrar da guilhotina o pescoço do senador Eduardo Azeredo, o PSDB reafirmou que tucano é ave de bons sentimentos. Não se limita a abrigar sob as asas da indulgência qualquer espécime que permaneça no ninho, caso do mineiro Azeredo. A compulsão para absolver bandidos de estimação também se estende a quem já deu bicadas por lá, caso de Renan Calheiros. O senador alagoano pode ser poupado da cassação graças ao convívio com a turma do PSDB. Em 1998, foi até ministro de FH. Ministro da Justiça.
Um terrorista ruim de conta
"Sem a CPMF, estamos perdidos", segue choramingando o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Quem diz uma bobagem dessas está é fazendo terrorismo político, comprovou o jornalista Elio Gaspari, apoiado em informações divulgadas pela própria Receita Federal. Os números do primeiro semestre informam: mesmo que a CPMF não existisse, a arrecadação de 2007 teria aumentado em R$ 2,8 bilhões. A bolada seria muito maior se o governo tratasse de controlar a gastança e aprendesse a investir com sensatez.
A Cesar, só o que dá certo
Fica combinado assim: se deu certo, foi Cesar Maia quem fez; se não deu, busque-se o culpado em outra freguesia. No caso do Pan 2007, por exemplo, devem ser creditadas a Cesar as medalhas dos atletas brasileiros, a redução da criminalidade e a festa dos torcedores. Ele não tem nada a ver com obras atrasadas ou gastanças amazônicas.
Sabe-se agora que os dias ensolarados são coisa de Cesar. Choveu? A encosta do morro fechou o túnel? Os cariocas que se queixem a São Pedro. Ou ao bispo.
Yolhesman Crisbelles
O júri do Yolhesman vive tentando evitar que Lula ganhe todas as taças, mas o supercampeão anda em grande forma. Levou mais uma pela comparação improvisada na reunião com os maiores empresários do Brasil:
Na hora em que a economia está estagnada, todo mundo entra na mesmi ce, e aí fica como o Corinthians, que agora tem que lutar para não cair para a segundona no campeonato nacional, quando a gente já podia ter a mão-de- obra preparada.
[ 28/10/2007 ]