Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, outubro 22, 2007

AUGUSTO NUNES SETE DIAS

21 de setembro de 2007


O circo passou por Uagadugu
Uma banca formada por dois ou três professores primários não demoraria cinco minutos para concluir que Luiz Inácio Lula da Silva é um péssimo aluno. Não sabe ler nem escrever. Provas de conhecimentos gerais o reduziriam a um colecionador de zeros. Foragido dos estudos desde a mocidade, nem lhe passa pela cabeça perder tempo com aulas. Acha que diploma é coisa de gente metida a besta.

Não precisou de nada disso para chegar à Presidência da República, vive repetindo a platéias satisfeitas com a federalização da esmola. Por que haveria de precisar agora? Convencido de que a esperteza e a intuição anulam lacunas e buracos escavados no cérebro pela vadiagem incurável, Lula trai no rosto enrugado pela impaciência o desconforto que lhe causa ouvir, por dever de ofício, informes preparados por assessores.

Nas viagens internacionais, tais resumos agrupam alguns tópicos sobre o país cujo espaço aéreo o Aerolula já sobrevoa. Um punhado de informações geopolíticas e históricas, e pronto: vai começar o show do intuitivo insuperável.

Ou apenas mais uma desastrosa apresentação do grande circo brasileiro, demonstrou a passagem da comitiva presidencial por Burkina Faso. Lula ali desembarcou na segunda-feira para protagonizar o que deveria ser o primeiro e mais vistoso ato do giro africano. Foi um espanto medonho.

Ao pisar na pista, o presidente tinha a expressão confiante de quem já sabia pronunciar o complicado nome da capital - Uagadugu - e aquele sorriso de estrela da festa. Acabara de chegar o convidado de honra para o seminário sobre o tema Democracia e desenvolvimento na África.

Ao lado do presidente Blaise Campaoré, Lula caprichou no falatório: "Se, ao invés de comprarmos pão, tivermos de comprar canhão, e se, ao invés de abraçarmos um companheiro, tivermos de atirar nele, certamente esse país nunca irá se desenvolver", ensinou no meio do discurso.

Lula não sabia que o seminário era só uma camuflagem para a comemoração do 20º aniversário do golpe liderado por Campaoré. Tampouco sabia que o anfitrião não recorreu a abraços para chegar ao poder. Preferiu matar a tiros, em 1987, o presidente Thomaz Sankara. O orador não sabia onde estava. Nem com quem estava falando.

Por que Lula aceitara o convite de um assassino que tem recorrido a eleições fraudulentas para manter-se na chefia do governo? Por que topara abrilhantar a celebração da morte? Por que perdera tempo em prestígio com uma ditadura nesses grotões da África martirizados pelo analfabetismo, pela corrupção, pela miséria e pela fome?

"O governo brasileiro considera Burkina Faso uma democracia", ensinou ainda em Uagadugu o notório Marco Aurélio Garcia. "O presidente Campaoré tem se subordinado a eleições livres, fiscalizadas internacionalmente", prosseguiu o assessor de Lula para assuntos internacionais. Uma pausa, e a ressalva: "Pelo que sabemos". Ao saber da frase, Campaoré apenas sorriu.

Cabôco Perguntadô
A Folha de S.Paulo, em nota publicada na seção Painel, informou que o setor de comunicações do Senado emprega, no momento, 600 funcionários. Excitado com a notícia, o Cabôco pensou em procurar um senador que o ajudasse a pendurar, nesse gigantesco cabideiro, um sobrinho momentaneamente desempregado. O menino jura ter aprendido a lidar com câmeras de TV num curso por correspondência. Mas o Cabôco quer saber se, além do voto do afilhado, o padrinho vai querer o apoio do tio.

Yolhesman Crisbelles
Vai para o campeoníssimo Lula, por um dos melhores momentos da entrevista ao repórter Kennedy Alencar, da Folha de S.Paulo:

Fiquei puto com a reportagem daquele jornalista do 'New York Times' porque ele mentiu. A última vez em que bebi bastante foi no dia da derrota do Brasil para a Holanda, na Copa de 1974.

Ou o presidente anda escondendo o jogo ou a bebedeira foi tamanha que, tantos anos depois, freqüentemente parece que não passou.


A explicação que complica
Chantageado por quatro criminosos que o tiveram como protetor nos tempos de delinqüentes juvenis, o padre Júlio Lancelotti resolveu gravar as conversas ameaçadoras. Numa delas, o religioso recorre a um argumento muito intrigante para justificar a impossibilidade de continuar financiando bandidos: "Não tenho mais de onde tirar. A polícia está me investigando porque já dilapidei recursos de um monte de lugar". O padre precisa explicar-se melhor: a quem pertenciam e onde estavam os recursos que dilapidou?

O chefe da ala das carpideiras
O desfile do bloco do Planalto informa que o ministro Guido Mantega, promovido a chefe da ala carpideiras da CPMF, anda escorregando no overacting. Em Nova York, repetiu que nenhum governo poderá governar sem o imposto do cheque. A ladainha induz a uma pergunta: por que Mantega achava o contrário quando o PT estava na oposição? E induz a uma suspeita: se o Brasil não sobrevive sem a CPMF, o ministro não pretende apenas esticá-la até 2010. Está é camuflando a tentativa de perpetuar a ilegalidade.

Jobim troca seca por luta na selva
Apesar dos muitos quilos a mais, que denunciam um perigoso despreparo físico, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, passou a semana desempenhando com aplicação e alegria o papel de general da selva. Fantasiado de guerreiro, brincou com bicho-preguiça, pegou macaco no colo, até passou a mão na cobra. Com tantos compromissos na agenda, não pôde correr atrás dos R$ 10 milhões necessários para que caminhões-pipa administrados pelo Exército continuassem a levar água a 387 municípios flagelados pela seca.

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