24/10/2007 |
O segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é uma cópia em carbono do primeiro, com alguns toques ou retoques inevitáveis. Mas passa sempre a impressão de que está começando ou que recomeça depois de uma pausa para tomar fôlego. Agora, por exemplo, quando se esbofa para aprovar, no Senado, o texto intocável da prorrogação do imposto do cheque, provisório até no nome de batismo (Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira) - a extorsiva CPMF, que penaliza a classe média, espremida no sanduíche entre a euforia dos ricos e a gratidão dos pobres socorridos pelo Bolsa Família, usina de votos - no seu comportamento e no discurso parece que estamos assistindo a mais uma reprise do filme tantas vezes visto. Antes de analisar o enredo, a confissão da perplexidade: na autolouvação a que se dedica nas suas arengas, no oba-oba do governo fanático pela publicidade: Lula e os ministros da área repisam a lengalenga do sucesso da política econômica que acabou com a inflação e abarrotou o cofre da viúva com bilhões de dólares e deu um jeito na herança maldita do antecessor, o sociólogo inventor da reeleição, Fernando Henrique Cardoso. A mágica não impôs sacrifícios à sociedade. Ao contrário, o maior governo de todos os tempos recriou um novo país, próspero, rico, com seus problemas resolvidos. Mas no apagar da vela do quarto aniversário, a chuvarada de verão gerou imagens na televisão e fotos na mídia de uma rede rodoviária em pandarecos, de portos sucateados com filas intermináveis de caminhões submetidos a semanas de espera para embarcar a carga que se deteriorava ao sol e ao sereno. O governo apelou para a improvisação de remendos. Um desastre em cima do outro: o tapa-buracos espalhou terra e fina camada de asfalto sobre as crateras e a emenda foi pior do que o soneto. Entre o mensalão e as CPIs da temporada de escândalos que arruinaram a respeitabilidade do Poder Legislativo, imerso na mais grave crise da crônica republicana, o governo badalou sucessos nas andanças do infatigável viajante internacional e chora miséria para encurralar o Senado e aprovar a CPMF amaldiçoada por Lula e o indignado PT nos longínquos tempos de oposição. Todo o aparato oficial está sendo mobilizado para negociar com os demos da gracinha presidencial e os compreensivos adversários do PSDB o acerto para aprovar a prorrogação do CPMF, sem emendas no texto, com a taxa de 0,38% que assegura os indispensáveis R$ 40 bilhões para tocar o canteiro de obras no ano eleitoral. Em que ficamos? O primeiro mandato foi um sucesso jamais visto ou não foi bem assim? Há dois governos Lula, uma para cada serventia. José Aparecido - Chego atrasado para este modesto registro sobre o falecimento do meu compadre e amigo de dezenas de anos José Aparecido de Oliveira, justamente homenageado pelo governo mineiro e por sua legião de devotos do culto da amizade. Zé Aparecido teve a sua biografia resumida nos registros da mídia: assessor político do governador, parlamentar e ministro de Magalhães Pinto; secretário particular de decisiva influência nos sete meses do embirutado Jânio Quadros, embaixador do Brasil em Portugal, prefeito de Brasília, cassado pela ditadura militar e amigo de todo o mundo. Só agora, o ex-presidente Itamar Franco revelou que o escolhera para candidato à sua sucessão. Os primeiros sinais da doença inviabilizaram a hábil jogada de Itamar. José Aparecido seria provavelmente eleito. Não posso adivinhar como seria o seu governo. Uma coisa é certa: meu compadre não cometeria o erro de alterar a Constituição para encaixar a praga da reeleição. E não precisaria fazer mais nada para merecer a nossa gratidão. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, outubro 24, 2007
Villas-Bôas Corrêa :O governo começa amanhã
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