O GOVERNO acha que leva muita pancada da mídia. E inventou uma falsa solução para o problema: a tevê pública.
Apesar do seu pequeno exército de comunicadores, os assessores de imprensa, foi incapaz de achar uma resposta para os problemas de comunicação na crise aérea. E é incapaz, independentemente de suas idéias, de navegar, com inteligência, na grande imprensa, apesar de ter o maior espaço.
A forma que escolheu -a medida provisória-, com escasso debate e rígidos prazos, exclui uma melhor contribuição dos opositores. E, de certa forma, nega a expressão pública. A estrutura de contratados, nos primeiros 36 meses, é tão dependente do governo que pode ir para os ares com um simples espirro do presidente.
O dinheiro que pretende gastar, R$ 350 milhões, é pouco para erguer uma tevê e uma enormidade se for malbaratado. A tendência será buscar dinheiro com as empresas, concorrendo com as emissoras comerciais. É difícil resistir à persuasão de um governo. Quem duvidar desse poder, tente convencer um deputado ou senador a votar contra ele.
O dinheiro é curto, e o talento específico também. Os nomes na mesa são de comentaristas saídos das grandes tevês comerciais. Comentaristas na tevê são uma reminiscência radiofônica. Trazem sua mensagem verbal e são incapazes de interpretar o fluxo de imagens em que estamos envolvidos. Mesmo Jabor, que veio do cinema, optou, talvez por uma questão de tempo e de recurso, por um estilo teatral.
Pouco dinheiro e talento associados costumam produzir fracasso. Por que se incomodar então? O dinheiro é público e não se deve desejar o pior para o adversário. O governo precisa de um software e decidiu comprar uma geringonça. É possível que leve mais pancada ainda ao tentar resolver seu problema de forma errada.
Trabalhei em emissoras públicas. No exterior, elas contavam o dinheiro para fazer suas emissões internacionais. Na medida provisória, nem se discute isso. É uma tevê voltada para dentro, sem apoio da oposição, controlada pelo presidente da República. Lula (bad) news.
Impressionante como, em tempo de convívio, a esquerda não conseguiu entender a imprensa. Chávez fechou uma grande emissora e amarga, hoje, baixos índices de audiência com seu projeto. A divergência não é sobre imprensa; no fundo, é sobre democracia.
Sem cláusula de performance, criada com essa pressa, o governo se dá ao luxo de esnobar os caminhos da mídia existente e refugiar-se na sua tevê, isto é, na sua torre de pixels.
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