O Globo |
30/10/2007 |
O governador Aécio Neves resolveu dar uma mãozinha ao destino e já está mais à vontade quando se fala dele como possível candidato tucano à sucessão de Lula, embora ainda não tenha assumido formalmente a condição. No fim de semana, em um evento de lideranças empresariais no Espírito Santo, o governador do estado, Paulo Hartung, um peemedebista com alma tucana, citou formalmente Aécio como candidato de uma nova geração de políticos. O próprio governador de Minas elencou quais seriam esses políticos, colocando lado a lado Hartung e Sérgio Cabral, o governador do Rio de Janeiro, ambos do PMDB, e Eduardo Campos, governador de Pernambuco, do PSB, numa espécie de grupo suprapartidário que poderia contar com o apoio de políticos petistas para concretizar um governo de união nacional no qual a polarização política não impeça projetos comuns. Não chegou a considerar a hipótese de, na disputa eleitoral, o PT e o PSDB estarem juntos, mas lançou a possibilidade de, passada a eleição, o partido derrotado (claro que sempre deu a entender que ele e o PSDB seriam os vitoriosos) se juntar ao grupo para aprovar as reformas estruturantes necessárias ao país. A negociação que o PSDB está fazendo com o governo para a renovação da CPMF foi apresentada pelos governadores de Minas e do Espírito Santo como uma maneira nova de fazer política, longe do fisiologismo que a base partidária estava impondo. Esse seria um trunfo do PSDB para a campanha: mostrar que política pode ser feita à base de negociações em benefício do país e que o famoso "choque de gestão" defendido pelos governos tucanos tem mais importância para o bem-estar da população do que supõem seus adversários. As condições que os tucanos impuseram para aprovar a CPMF seriam prova dessa nova maneira de gerir o Estado: uma reforma tributária que desonere os investimentos, especialmente no saneamento básico; mais dinheiro para a Saúde; e redução gradual dos gastos públicos. Aécio atribuiu a um anônimo analista político a tese, que mais parece sua, de que, no futuro, os historiadores considerariam os oito anos de Fernando Henrique Cardoso e os oito de Lula como um período só, de continuidade. Lembrou que na economia já não há diferenças entre os dois partidos e que debates infrutíferos como os sobre privatização, na campanha presidencial passada, já não terão lugar, depois das privatizações do governo Lula. O governador de Minas falou "com a franqueza possível" sobre eventual disputa interna no PSDB com o governador de São Paulo, José Serra, para definir quem será o candidato do partido à sucessão de Lula. Para os empresários, Aécio disse que Serra poderá ser "um grande presidente", mas que o candidato do partido não poderá sair da vontade unilateral de qualquer um deles, nem da imposição de dirigentes. Por isso, defendeu as prévias como a melhor maneira de expressão do partido, prévias que já haviam sido rejeitadas pelos partidários de Serra. O fato é que cada um dos dois governadores está fazendo suas negociações, tanto internamente quanto para fora do partido, a fim de, no momento oportuno, apresentarem suas armas políticas. Ao citar governadores de vários partidos, e sabendo-se que o deputado Ciro Gomes, do PSB, já declarou publicamente que apoiaria a candidatura de Aécio Neves, é razoável imaginar-se que as negociações políticas do governador de Minas estejam adiantadas, e que ele está se preparando para, no momento oportuno, apresentar sua candidatura como um fato político concreto. Como fez quando se apresentou como candidato à presidência da Câmara, furando o rodízio que havia entre o PSDB e o PFL. Aécio, que tem um nível de desconhecimento a nível nacional bastante alto se considerarmos que é governador de um estado que disputa com o Rio o lugar de segunda maior economia do país, parece disposto a sair pelo Brasil se apresentando ao eleitorado. O bom relacionamento político entre os governadores do Sudeste, que já fizeram vários projetos comuns, é uma espécie de trunfo de uma candidatura consensual da região. Um candidato que saia com o apoio fechado de Rio, São Paulo, Minas e Espírito Santo, onde os governadores têm alto índice de aprovação popular, seria altamente competitivo. O mesmo, é evidente, pensa Serra, que está nesse grupo e monta acordo com o DEM, tentando fazer de Gilberto Kassab o candidato a prefeito de São Paulo. Três deles - Serra, Aécio e Cabral - estão na Suíça, onde hoje a Fifa vai anunciar oficialmente o Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014. Neste ano, qualquer um dos três pode estar concorrendo à Presidência da República, e talvez até mesmo contra Lula. A idéia de fazer uma chapa pura com Serra e Aécio na vice, embora não seja aceita pelo governador mineiro, agrada a muitos desses possíveis aliados. A mudança da legislação, passando o mandato presidencial para cinco anos e acabando com a reeleição, é uma saída que está sendo estudada e ontem foi insinuada pelo próprio Lula, quando mais uma vez rejeitou a idéia de um terceiro mandato consecutivo. O problema dessa fórmula é que, além de impedir que o sistema de reeleição seja testado por mais tempo, ela embute a prorrogação dos atuais mandatos executivos por mais um ano, o que sempre levou a uma rejeição da opinião pública. Prorrogação de mandatos ou mudanças para regras eleitorais que só existem em países onde a democracia é cada vez mais uma aparência, como na Venezuela, não têm consenso na sociedade brasileira. |
Entrevista:O Estado inteligente
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