MADRI - O governo espanhol acaricia uma idéia que, ou é exótica, ou é "revolucionária", como prefere Maria Teresa Fernández de la Vega, a primeira vice-presidente do governo. Trata-se de criar na Comunidade Ibero-americana (22 países, inclusive Brasil) o que se está chamando de "fundo de coesão".
É modelo claramente inspirado nos fundos estruturais que a integração européia usou para aproximar os países mais pobres do continente dos mais ricos.
Para se ter uma idéia: a Espanha recebeu a cada ano, desde que entrou na então Comunidade Européia (1986), algo em torno de 1% de seu PIB, a fundo perdido. Foi fator importantíssimo para que o país crescesse a ponto de emparelhar com seus pares ricos.
Por esse antecedente, é óbvio que o "fundo de coesão" em cogitação para a Ibero-América é tentador.
Mas suscita, de cara, uma pergunta: quem põe dinheiro nele? À primeira vista, só a Espanha, o único país realmente rico dos 22 ibero-americanos, estaria em condições de fazê-lo. Mas, toda vez que fiz essa pergunta a autoridades espanholas esta semana, a resposta foi escorregadia, no mínimo. Desconfio, no entanto, que o Brasil, ao menos no governo Lula, estaria disposto a ser um dos financiadores, embora falte ao país dinheiro suficiente até para o PAC (o Programa de Aceleração do Crescimento).
Tanto falta que, faz um mês, Lula esteve justamente na Espanha para vender o PAC a empresários espanhóis (dispostos, aliás, a comprá-lo).
É lógico supor que a Venezuela de Hugo Chávez se entusiasme com a idéia. Com os preços do petróleo no nível em que estão, dinheiro é o que não falta. Nem a disposição para derramá-lo pelos países vizinhos, o que Chávez já faz sem o "fundo de coesão". Imagine com ele.
Seja como for, a idéia daria carne a uma comunidade até aqui vaporosa, etérea. A conferir.
crossi@uol.com.br