BRASÍLIA - Na entrega de um prêmio na semana passada, o presidente do BC, Henrique Meirelles, falou sobre juros, inflação, FMI, crescimento, o blablablá de sempre. Só esqueceu uma coisa: não citou Lula uma única vez.
Aliás, Meirelles só lembrou do presidente em exercício, José Alencar, ali presente, lá pelo terceiro ou quarto número decorado. O BC pode não ser independente, mas seu presidente se sente em outro planeta -ou outro governo.
Ele acabou de discursar e saiu correndo, dizendo que iria "representar o Brasil" na reunião do FMI nos EUA. Esquecido, esse Meirelles. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já estava a postos lá, justamente "representando o Brasil".
O presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), cochichou com o vice Alencar algo assim: "Que coisa! Ele não falou no Lula". Para compensar, os dois se derramaram em elogios ao presidente.
Meirelles pode alegar que é "técnico", não "político". Mas ele tem ambições políticas. Elegeu-se deputado, acaba de trocar de domicílio eleitoral, lá no fundo sonha ser... presidente da República.
Na entrevista à Folha do último domingo, Lula foi claro quando o repórter Kennedy Alencar lhe perguntou se era hora de parar a queda dos juros: "Não, não acho". E se parar? "Se parar, vai explicar a razão pela qual parou. Minha orientação para os companheiros Henrique Meirelles e Guido Mantega é não ficar brincando com a inflação."
O que o BC fez? Interrompeu a queda dos juros. Ninguém sabe, ninguém viu se o "companheiro" Meirelles -que, aliás, desfiliou-se do PSDB para assumir o cargo- já deu explicações para o chefe.
Lula descolou-se do PT, do Congresso, do Judiciário e, agora, do BC. Meirelles não percebeu, mas ele quer reinar sozinho.
Em tempo: Tião Viana vai ficando, vai ficando e... pode ficar.