Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, agosto 03, 2007

Você é Fla ou Flu?



Artigo - Bárbara Gancia
Folha de S. Paulo
3/8/2007

A crise aérea não é problema só para as elites que colocam seus prósperos traseiros em poltronas de avião

"A AVIAÇÃO BRASILEIRA enfartou de vez e o governo finge não ver. Mas é bom começar a se mexer. Por conta da infra-estrutura e dos índices de acidentes aéreos, baixos para padrões internacionais, nosso sistema aéreo é classificado pela Organização de Aviação Civil Internacional como categoria 1, em paridade com Europa e EUA.
Mas, devido aos problemas ocorridos ultimamente, existe o risco de o Brasil ser rebaixado para categoria 2, a mesma, diga-se, usada para classificar a Argentina. Note que, por ser categoria 2, vários países africanos não podem voar seus aviões de bandeira nos Estados Unidos."
Os dois parágrafos acima, de minha autoria, foram publicados neste espaço em 22 de junho, ou seja, 25 dias antes do maior desastre aéreo da história do país.
Pois, na quarta-feira, o brigadeiro Jorge Kersul, que comanda a investigação sobre o acidente com o Airbus da TAM, repetiu a advertência. Disse ele que a ação dos deputados que escancaram publicamente toda e qualquer informação sobre a investigação para obter algum benefício político "pode resultar no rebaixamento do Brasil por agências internacionais de aviação".
A malha aérea do país ter se desintegrado não é só um problema para os "ricos" que colocam seus prósperos traseiros em poltronas de avião. Trata-se de uma deficiência de infra-estrutura que afeta em cheio a economia do país e tira empregos de milhares de "pobres".
Coloco entre aspas os termos "ricos" e "pobres" em razão de um triste fenômeno que nos acometeu desde o surgimento do escândalo do mensalão, quando os petistas foram pegos com a mão na massa tentando aparelhar o Estado, ou seja, colocando gente do PT em tudo que é cargo público de alguma importância. Desde então, o país, incentivado pelo próprio presidente da República, passou a viver em clima de Fla-Flu, de uma rivalidade que não admite meios-termos.
Se você apóia Lula só pode ser a favor dos "pobres" e da "classe trabalhadora". E se está entre aqueles que comemoraram as vaias a Lula na abertura do Pan, deve ser do tipo que defende os interesses da elite. É lá ou cá, como se fôssemos um bando de torcedores infantilizados.
Pois veja só que coisa: eu acho um escândalo, em oito anos de governo, um partido como o PSDB, que traz o termo "social" no nome, não notar que era impreterível desonerar os itens da cesta básica. E penso que Lula teve sensibilidade ao baratear o custo do arroz e do feijão.
Acho também que quem está cansado, que deite no sofá. O movimento "Cansei" tem entre seus idealizadores gente a quem eu não confiaria meu cão, Pacheco Pafúncio, para dar uma volta no quarteirão. Há problemas também de outra ordem. Um dos organizadores do "Cansei", Luiz Flávio D"Urso, presidente da OAB-SP, diz que o movimento é apolítico, mas nutre pretensões de chegar à prefeitura de São Paulo.
Por outro lado, eu participaria de qualquer mobilização pública contra a corrupção. Caminharia pelas ruas orgulhosamente ao lado dos familiares das vítimas do desastre da TAM, do caos na saúde pública, do acidente na obra do metrô e das mortas em estradas não privatizadas e entregues ao abandono. Isso me coloca de que lado? Respostas para o e-mail abaixo.

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