Marcio Lima |
Estrada no interior da Bahia: paisagem de bombardeio |
O Brasil enfrenta uma guerra dentro das próprias fronteiras. O inimigo interno cobra seu quinhão – e que quinhão! – na forma de atraso no desenvolvimento, custos absurdos, exaspero dos cidadãos e até mesmo sacrifício de milhares de vidas a cada ano. O nome desse inimigo é infra-estrutura. Quando intacta e moderna, ela está longe de ser um monstro, pois se trata da coluna vertebral do sistema produtivo. Dá-lhe sustentação e velocidade. Em frangalhos, vira um bicho-papão e é causa das distorções e enormidades citadas acima. Estradas esburacadas como se tivessem sido bombardeadas, aeroportos mal equipados, com terminais insuficientes e pistas inseguras para aviões de grande porte, portos reduzidos e sem maquinário suficiente para escoar a produção agrícola e industrial, ferrovias que são verdadeiras sucatas, setor energético à beira de um novo apagão – tudo isso compõe um quadro de desastre só comparável ao de nações paupérrimas, que não podem sequer sonhar em entrar nos trilhos do progresso econômico e social.
A reportagem especial que começa na página 80 desta edição traduz, por meio de quadros comparativos, o grau de esfacelamento a que o país chegou em matéria de infra-estrutura. Ela também mostra o que pode ser feito já, de acordo com especialistas. As ações preconizadas têm um caráter emergencial, mas não de improviso. Apontam um caminho de racionalização e abertura para a iniciativa privada. É preciso não só investir mais dinheiro no setor, como melhorar a qualidade do investimento. Até o início da década de 80, o Brasil destinava anualmente à infra-estrutura o equivalente a 6% de seu produto interno bruto (PIB). Desde então, os gastos no setor foram sendo reduzidos dramaticamente – ao que se acompanhou, é claro, uma queda no crescimento econômico. Hoje, estradas, aeroportos, portos, ferrovias e hidrelétricas recebem cerca de 3% do PIB. A diferença parece pouca, mas não é. Para se ter uma idéia, estudiosos calculam que, não fosse a falta de investimentos em infra-estrutura nos últimos vinte anos, o total de riquezas produzidas pelo país poderia ser hoje entre 10% e 12% maior. É como se uma economia do tamanho da do Chile nos tivesse sido extirpada. Não há dúvida de que o Brasil precisa vencer essa guerra. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado pelo governo, é um bom primeiro passo. Urge, no mínimo, implementá-lo.