Em seminário realizado pelo partido, FHC afirma que disputa será com o governo Lula e não com a economia
Carlos Marchi
“A economia vai bem, mas o governo vai mal”, afirmou ontem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao estimular o PSDB, num seminário do partido, a enfrentar o governo do PT. “Nós vamos disputar a eleição com o governo, não com a economia”, complementou, alinhando uma série de temas que os tucanos devem transmitir ao povo brasileiro. O principal é o combate à impunidade: “A lei, no momento, é que o crime compensa. E quem morre mais são os pobres da periferia”, disse, criticando a idéia de que o governo do PT “é dos pobres”.No mesmo seminário, fechado à imprensa, os tucanos ouviram os principais economistas do partido dizerem que “a economia vai bem e o governo vai mal”. O ex-ministro Pedro Malan afirmou que o governo Lula não poderá fugir de uma rigorosa reforma da Previdência: “Estamos em rumo de colisão”, alertou. O ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros traçou um cenário extremamente favorável ao governo Lula na economia, mas previu dificuldades a partir de 2010. E sentenciou: “A tensão vai aumentar sobre a classe média.”
O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco pediu que o PSDB embarque “num sonho” e opinou que o protagonista do crescimento será o setor privado. “O Estado não é capaz de liderar o processo de desenvolvimento e não é capaz de produzir investimentos”, observou. Já o economista Roberto Gianetti da Fonseca disse que o início do segundo governo Lula “traduz um momento de extrema indefinição sobre o que o Brasil pretende ser em sua inserção internacional”.
O economista Gesner de Oliveira sintetizou o pensamento dos economistas tucanos em três itens: o governo Lula é beneficiado por um ciclo favorável às exportações sem precedentes na história brasileira; o Brasil está perdendo uma janela de oportunidades em razão de erros na política econômica do governo Lula; e o conjunto de instrumentos de políticas de macro e microeconomia conspira contra a produção e o investimento. “Temos uma média de inflação igual à dos países emergentes, mas crescimento muito abaixo deles”, contou.
ARGUMENTOS A FAVOR
No começo, Malan disse lamentar que o PSDB não tenha defendido as privatizações “como deveria”. No final, FHC cobrou da platéia lotada de militantes e de deputados tucanos que o PSDB tem muitos argumentos para falar com o povo. Primeiro, desfiou o que considera erros do governo Lula, apontando que o PSDB deve ocupar as áreas social e de infra-estrutura. “Energia é um desastre”, constatou, para perguntar: “Qual foi a contratação de energia deste governo?” E apontou que o governo Lula “vai quebrar o galho, contratando energia a diesel às pressas”.
“E portos?”, prosseguiu. “Meu governo fez vários portos e reformou outros tantos. Qual o porto que ele fez? Zero.” Mencionou a péssima situação das rodovias brasileiras e ironizou: “Iam fazer PPPs. Depois cancelaram. Agora vão fazer concessões.” Mas a sugestão maior de proposta para o PSDB foi que deve apadrinhar o combate à impunidade: “Não tem crescimento sem segurança pública”, sublinhou. “Estamos corroendo a idéia da igualdade jurídica do cidadão.”
E desabafou: “Eu não quero que caia o raio, mas se cair um raio na cabeça desse governo, cai na nossa, tal a incompetência deles.” E cobrou também do partido que defenda valores e crenças. Animou o partido a enfrentar o momento adverso, em que o PT de Lula parece imbatível: “Eu ganhei duas vezes no primeiro turno contra Lula, e na segunda vez, em meio à crise.” E provocou: “E nós vamos competir, não com Lula, mas com um partido que não sabe governar e que está coberto de escândalos.”
TEMAS ELEITORAIS
Malan propôs que o PSDB adote, para as eleições de 2010, três conjuntos de temas: liberdades individuais (propostas voltadas para as pessoas, como discussão sobre formas de empreendedorismo); igualdade e justiça (nivelamento de oportunidades) e eficiência (no setor público e no setor privado). A proposta foi ironizada por Mendonça de Barros, integrante do antigo grupo dos desenvolvimentistas do PSDB, que confrontavam os monetaristas de Malan: “Só se for para perder a eleição...”
Mendonça defendeu que o cenário econômico do País é extremamente favorável ao PT de Lula. Para ele, há dados irrefutáveis beneficiando o governo: o salário mínimo cresceu sistematicamente desde 1995, medido em cestas básicas e em real, e o povo atribui esse crescimento ao governo Lula; o mesmo acontece com o crescimento do País. “Nós sabemos que isso é mérito nosso, mas o povo não pensa assim”, advertiu.
Mas ele acha que os alimentos vão começar a pressionar os ganhos do salário mínimo e o emprego continuará diminuindo para quem ganha mais de 4 salários mínimos. E na parte fiscal, os problemas chegarão em 2009, “se o governo mantiver os níveis de gastos”.
Malan foi contra propostas de redesenhar o Plano Real. “Temos é de gerir melhor o governo e a economia.” Por fim, os economistas salientaram que o governo Lula também enfrentará problemas com a desestruturação que promove nas agências reguladoras.