Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, agosto 01, 2007

Fernando Rodrigues - Um ato nobre





Folha de S. Paulo
1/8/2007

Quando o presidente do Senado da República insiste em agarrar-se à cadeira sob uma saraivada de suspeitas, é digna de nota uma atitude do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet tornada pública nesta semana. Sob o risco de perder sua carteira de motorista por excesso de multas de trânsito, apresentou-se ao Detran de Brasília, onde vive, para cursar as aulas de reciclagem e ter direito a uma nova habilitação. Piquet tem 54 anos. Foi tricampeão de Fórmula 1. É um empresário bem-sucedido. Não é necessária muita imaginação para deduzir a facilidade de uma pessoa como Piquet para conseguir algum tipo de anistia ou saída heterodoxa. O ex-corredor preferiu o caminho institucional, única opção para a imensa maioria dos brasileiros -mas nem sempre a opção da elite.
Não é pouca coisa quando alguém como Piquet se submete a esse tipo de procedimento. O piloto se deixou fotografar assistindo a uma das aulas do curso do Detran. "Na vida, a gente tem que ser cobrado", disse. É difícil encontrar na memória algum exemplo semelhante por parte dos sucessivos governantes que passam pelo Palácio do Planalto. Ninguém ali se esmera com esse vigor para transferir bons valores para a sociedade. É raro um episódio de grandeza entre os políticos.
Os eleitores também se sentem à vontade para fazer o que bem entendem. Não enxergam o Estado como um bem comum, mas apenas algo distante e pronto para ser desrespeitado. Basta andar em rodoviárias pelo país, constatar a imundície e entender como os brasileiros enxergam os espaços públicos.
No momento que um empresário como Nelson Piquet admite um erro e se curva às regras gerais da sociedade, o país aprende uma lição: a lei existe e é igual para todos. Algo às vezes difícil de acreditar, ainda mais em Brasília, tendo de assistir de perto ao dia-a-dia dos políticos.

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