O Estado de S. Paulo |
17/8/2007 |
Se a oposição brasileira tivesse a força, a competência, a capacidade de mobilização, a influência e o poder de fazer acontecer que o governo atribui a ela, estaria com a vida ganha: era só esperar chegar mais perto da eleição, contratar um marqueteiro e correr para receber o abraço do eleitor. Se estivesse mesmo por trás da “conspiração das elites”, das denúncias publicadas na imprensa, dos infortúnios decorrentes dos escândalos em série, das vaias e dos movimentos que na sociedade começam a se organizar, a oposição não seria este ser que chora e segue às tontas mergulhada naquele “desejo triste de voltar” cantado em Castigo por Dolores Duran nos anos 50. O tema vem à mente a propósito da mais recente declaração do presidente Luiz Inácio da Silva, que achou por bem espetar na conta dos oposicionistas as agruras do presidente do Senado, Renan Calheiros. Para Lula, tudo é culpa da oposição, que não resolveu o assunto simples “em uma semana” porque estava interessada em “criar caso”. Para ele, “típico caso de quanto pior, melhor”. Na verdade, um típico caso de erro proposital de pessoa, dado que a oposição no primeiro momento estava quase toda ocupadíssima em prestar solidariedade ao presidente do Senado. Por pouco, e só por conta de uma reportagem do Jornal Nacional mostrando as incongruências das pecuárias do senador, a oposição não emprestou seus votos ao arquivamento proposto por Epitácio Cafeteira, resolvendo tudo em “uma semana”. Agora, quase três meses depois, já há três processos no Conselho de Ética contra ele, uma condenação consensual na sociedade, uma descompostura pública do usineiro João Lyra informando sobre os “favores financeiros” a ele prestados, mas o presidente da República ainda abraça a tese da intriga da oposição - tão real quanto a aparição de fantasmas ao sol do meio-dia. Deve haver alguma razão. Duas ocorrem como hipóteses, descartando-se uma terceira, que colocaria o presidente como habitante do mundo da lua. Como lunático Lula não é, ainda mais em questões de poder, tanto pode lhe interessar criar a ilusão de que tem contra si uma oposição forte - sendo assim, fortíssimo, pois a suplanta nas pesquisas e nas urnas - quanto pode estar simplesmente jogando conversa fora. 2 + 1 = 3 A nova campanha institucional do Banco do Brasil suscita reclamos na oposição por que adota o enigmático slogan “decida pelo 3” e dá margem à interpretação de que seria propaganda subliminar para criar ambiente palatável à passagem de uma proposta de terceiro mandato para o presidente Lula em 2010. Os governistas dizem que não, que Lula nem pensa nisso e que o “3” é decorrente da soma de “dois mais um” dos algarismos da “Agenda 21”, principal documento da conferência Eco-92 sobre os compromissos dos signatários para com o desenvolvimento sustentável do planeta neste século. As suspeitas podem até ser infundadas, dado o hermetismo da mensagem, se houver nela mesmo cunho político, mas a propaganda também não consegue explicitar qual a relação entre o “dois mais um” e as atividades do Banco do Brasil. Seja qual for o caso - propaganda indevida ou publicidade ineficaz -, é o público quem paga um pato de milhões. De crocodilo Denise Abreu precisou de 11 meses e a pressão de uma comissão parlamentar de inquérito para se sensibilizar com o choque das famílias dos mortos no acidente do Boeing da Gol, em setembro de 2006, diante da frase “o avião caiu de 11 mil metros de altura, o que vocês esperavam, corpos?”, dita por ela à época. A diretora da Anac pediu desculpas, disse ter sido mal compreendida, mas queixou-se de, na crise, ter sido desrespeitada “como ser humano”. Exatamente como se sentiram os seres humanos plantados nos aeroportos enquanto ela e seus companheiros de agência esbaldavam-se numa festa em Salvador em dia de crise aguda. Papel passado Na apresentação ao Parlamento da “proposta” de reforma da Constituição feita à imagem e semelhança de seus pendores pelo poder eterno e absoluto, Hugo Chávez falou de improviso. Estava à vontade: fazia piadas, provocava risos na platéia, pontuava o pronunciamento chamando os políticos pelo nome envaidecendo os citados, tomando o cuidado de ressaltar a “modéstia” de seus feitos e opiniões sem concessões à auto-exaltação. Até porque seria desnecessário, pois o venezuelano perpetrava ali, com a tranqüilidade dos que se consideram justos, um legítimo golpe de Estado, açambarcando, sob o dístico do “poder popular”, todos os meios de controle político, social e até geográfico existentes na Venezuela. Com essa reforma, o país passa a ser oficialmente uma ditadura constitucional. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, agosto 17, 2007
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