Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 05, 2007

CLÓVIS ROSSI

Sem medo de ser patrulhada

SÃO PAULO - Era uma vez o tempo em que as patrulhas da esquerda gritavam "é da direita", e o patrulhado se calava sem que fosse preciso acrescentar um mísero argumento para desqualificá-lo.
Compreensível: ser de direita é ser conservador, diz a sabedoria convencional. No Brasil, não há muito o que conservar, conhecida a obscenidade social (e ética) que é a pátria amada. Logo, o rótulo "direita" bastava para provocar o "impeachment" para o debate de quem o recebia.
A reação de Paulo Zottolo, presidente da Philips do Brasil, parece pôr fim a essa situação. Não que ele se assuma como de direita. Mas assume-se, sim, como rico e da elite, mas nem por isso disposto a calar-se ante o patrulhamento.
É também compreensível: primeiro, caiu o Muro de Berlim, símbolo da vitória da direita na guerra ideológica do século passado (ainda precisa ganhar a do século 21, mas essa é outra história).
No Brasil, à queda do muro e à derrota da esquerda, somou-se a violenta guinada do maior partido de esquerda, o PT. Foi tão rapidamente para a direita que embaralhou tudo, menos as patrulhas.
Hoje, quando elas gritam "é de direita", referem-se a quem? A Paulo Maluf e Fernando Collor, dois arquetípicos representantes da direita, mas agora aliados desde criancinhas do governo Lula? Ou a Delfim Netto, o demônio preferido da esquerda até ser entronizado conselheiro econômico do "rei" Lula, mais ouvido por ele do que os economistas de esquerda de tempos já mortos?
Ou a José Sarney, outro incondicional do lulismo, mas presidente do partido de apoio ao regime surgido do golpe de 64, o fantasma que agora Lula invoca sem olhar para o lado e ver seus aliados?
O grito "é a direita/é o golpe" ficou igual ao "olha o lobo". Ninguém sério leva a sério. Só os debilóides das patrulhas.

crossi@uol.com.br

Arquivo do blog