Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 11, 2007

Chefe de cartel colombiano é preso em São Paulo

315 mortes e quatro plásticas

O traficante colombiano preso no Brasil é um
peixe graúdo. Resta saber sob que condições
ele será extraditado para os Estados Unidos


Juliana Linhares

Marcio Fernandes/AE
Juan Carlos Ramirez Abadía, plásticas depois: a cara de Freddie Mercury


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Preso em São Paulo na terça-feira, o colombiano Juan Carlos Ramirez Abadía, 44 anos, é considerado um dos maiores traficantes de drogas do mundo. Um dos quatro chefes do Cartel do Norte do Vale, na Colômbia, ele é acusado de ter enviado, nos últimos dezessete anos, pelo menos 1.000 toneladas de cocaína aos Estados Unidos. A polícia federal americana oferecia 5 milhões de dólares a quem desse pistas que pudessem levar à sua captura. Segundo o FBI, Abadía é responsável por 315 mortes cometidas em território americano e colombiano. O bandido estava desde 2004 no Brasil. Aqui, montou dezesseis empresas de ramos diversos: imobiliário, esportivo e de informática. A polícia acredita que, no país, o traficante lavava o dinheiro do tráfico e coordenava o envio, à Colômbia, de produtos químicos usados na produção da cocaína. Processada ali, a droga seguia para os Estados Unidos, além do México e de países da Europa. O dinheiro da venda ia para o Uruguai e, em seguida, era enviado ao Brasil, para ser lavado. Em 25 anos de envolvimento com o tráfico, Abadía amealhou um patrimônio estimado em 1,8 bilhão de dólares.

Ele foi preso pela Polícia Federal, juntamente com a mulher, Milareth Lozano, na casa em que vivia, localizada em um condomínio de luxo em Aldeia da Serra, região da Grande São Paulo. O imóvel tem 1.800 metros quadrados e vale 2 milhões de reais. Conta com academia de ginástica, piscina aquecida, dez televisores de plasma e cinco quartos. Na garagem, a polícia encontrou quatro carros: uma caminhonete Hilux, um Xsara Picasso, um Citroën C3 e um Honda Fit. Apenas um dos sofás, italiano, custou 50.000 reais. Vaidoso, Abadía tinha uma coleção de 56 relógios de marcas como Rolex, Bulgari e Cartier e armários repletos de roupas das grifes Armani, Dolce&Gabana e Ermenegildo Zegna. Ele e a mulher levavam vida de fugitivo. Nunca abriam as cortinas da casa, não freqüentavam restaurantes e só eram vistos por vizinhos – com quem não falavam – nos momentos em que entravam e saíam do imóvel. "Quando a bola do meu filho caía no quintal deles, eu tocava a campainha e gritava, mas eles nunca respondiam", diz uma vizinha. Na rua, Abadía escondia o rosto com bonés, gorros e óculos escuros. Funcionários do condomínio estranhavam os hábitos do casal: "A mulher, uma loira muito bonita, nunca saía de casa". No mais caro salão de cabeleireiros de Aldeia da Serra, Milareth foi vista apenas duas vezes. "Na última, notamos que ela tinha marcas recentes de cirurgia plástica no rosto", diz a manicure que a atendeu. Sabe-se que pelo menos as feições de Abadía passaram por uma completa transformação nos últimos anos. A polícia suspeita que ele tenha feito quatro cirurgias para modificá-las. Em uma delas, teve próteses de silicone aplicadas nas maçãs do rosto. Acabou parecido com o cantor Freddie Mercury, vocalista morto do Queen.

Abadía entrou para o crime ainda adolescente, quando tratava os cavalos de um chefão do narcotráfico colombiano. Com diversas condenações na Colômbia, ele está, nos Estados Unidos, sentenciado à prisão perpétua. Quer ser extraditado para lá em troca de um acordo de delação que reduza sua pena. O fato de ter sido detido em solo brasileiro pode acabar ajudando o bandido. Isso porque, pela legislação nacional, um preso extraditado não pode cumprir em outro país uma pena inexistente aqui. Como o Brasil não tem prisão perpétua, caso consiga a extradição, o traficante poderá ficar preso nos Estados Unidos por até trinta anos, a pena máxima prevista no Brasil.




Fotos Time Life Pictures/Getty Images e AP
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