Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, agosto 17, 2007

Celso Ming - Derretendo




O Estado de S. Paulo
17/8/2007

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, quer mais ação dos países ricos no monitoramento dos mercados financeiros, anunciou ontem a agência Associated Press.

Ele defende que o Grupo dos Sete (Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Canadá e Japão) regule o mercado financeiro global e evite a excessiva exposição ao risco.

Ontem foi um desses dias em que o medo atropelou a razão. No desespero, muita gente deve ter feito besteira na administração de seu patrimônio.

O Índice Bovespa, que mede o comportamento das 60 ações mais negociadas, abriu em baixa, despencou, chegou a cair 8,8%, em seguida se recuperou, voltou a cair, mas fechou em baixa de apenas 2,6%. Ufa! Em um só dia, oscilou mais de 4 mil pontos. Outros indicadores do estresse financeiro, como o dólar, o prêmio de risco Brasil e os índices futuros, tiveram desempenho semelhante. Ao redor do mundo, o efeito manada se encarregou de depenar o baú dos mais aflitos.

Sarkozy não esconde seu viés intervencionista. Mas, reconheça-se, ele aponta para um buraco negro. Em 1944, a Conferência de Bretton Woods criou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial para evitar catástrofes globais como as da década de 30. O mundo mudou, o mercado financeiro opera 24 horas por dia à velocidade da luz. Recursos são transferidos para qualquer coordenada geográfica a um clique de computador. De um dia para o outro o céu dos mercados vai do azul-cerúleo para o cinza chumbo e descarrega raios.

Mas os organismos criados para evitar crises globais envelheceram e não têm respostas para os trancos de hoje. O FMI emprega 2,7 mil burocratas de alto nível que hoje dedicam seu tempo para apascentar estatísticas. Desde a crise dos anos 90, os países emergentes não fizeram outra coisa que não amontoar reservas e dispensar a tutela do Fundo.

Em 1998, o então presidente americano Bill Clinton chegou a anunciar a criação de força-tarefa que propusesse nova arquitetura econômica mundial. Mas a idéia adormeceu sabe-se lá em que gaveta, embora desde então venham espocando propostas para reformar as instituições gêmeas de Bretton Woods.

O que Sarkozy parece pedir são instrumentos mais adequados que garantam supervisão das finanças mundiais e forneçam mecanismos quase automáticos de prevenção de crises. Parecem reabertas as discussões.

As agências de análise de risco, como Moody's, Standard & Poor's e Fitch, foram criadas para preencher algumas dessas funções. Mas atuam com graves limitações. Sarkozy abre fogo contra a lentidão e a leniência com que trabalham. Documento recente do FMI (Money for nothing and checks for free) dispara críticas no mesmo tom. Ontem, o Financial Times (FT) anunciou que a União Européia vai investigá-las pela falta de empenho em cumprir sua função: 'O mercado de hipotecas subprime não teria crescido desse jeito se não tivesse recebido ratings favoráveis de algumas agências', diz o FT, atribuindo a frase a um membro da Comissão Européia.

Enquanto isso, os mercados derretem.

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