Editorial |
O Estado de S. Paulo |
16/8/2007 |
Dinheiro de mais e juízo de menos: esta mistura é o principal fator por trás da nova turbulência no mercado financeiro global, agravada a partir da última semana. Ontem, as bolsas continuaram a oscilar adoidadamente, mas fecharam em fortes baixas, enquanto os grandes bancos centrais voltavam a intervir. O cenário é novo: a integração financeira é sem precedentes na história econômica, a tecnologia usada era ficção científica não há muito tempo e as operações desafiam a compreensão até dos especialistas. A bolha recém-estourada representa a última palavra em sofisticação e complexidade técnica, mas não há nenhuma novidade nos seus principais ingredientes. Os desastres ocasionados pela mescla de euforia, imprudência e dinheiro fácil compõem uma história multicentenária e repetida com algumas variações desde a especulação com a tulipa negra no século 17. Em vários episódios, o estouro da bolha ocasionou recessão, às vezes localizada, às vezes muito ampla, e impôs a adoção de penosas políticas de ajuste. Ninguém pode afirmar com segurança, por enquanto, se a atual instabilidade prenuncia o fim de uma longa prosperidade internacional ou se vai esgotar-se em algumas semanas. Na terça-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, abandonou o tom de quase despreocupação, mas continuou negando o risco de alastramento da crise e de interrupção do crescimento brasileiro. “O dólar subiu um pouco mais, mas esse não é um problema ruim”, acrescentou. (Ontem, passou dos R$ 2,00.) Essa declaração seria menos estranha se não contivesse a palavra “problema”. Dólar um pouco mais caro pode ser bom para o comércio exterior brasileiro e para a geração de empregos. Mas a variação cambial só indica um problema porque reflete um cenário de insegurança, ameaçador para o comércio internacional. Isso remete à grande dúvida: estouro localizado ou início de reversão de um ciclo? A tulipa original, neste novo episódio, era de quinta categoria: créditos de baixa qualidade negociados no mercado americano de hipotecas imobiliárias. A bolha expandiu-se com a revenda dos créditos por meio de canais de negociação de alcance internacional. Dinheiro de sobra - o chamado excesso de liquidez - favoreceu a difusão das operações. Mas esse dinheiro de sobra tem financiado uma porção de outros negócios, alimentando operações especulativas em todo o mundo. Nenhuma pessoa envolvida no mercado financeiro ou na condução da política econômica pode alegar surpresa. A bolha do mercado hipotecário poderia acabar agora ou no próximo ano, mas os perigos associados à farra da liquidez são conhecidos há muito mais tempo. Há pelo menos dois anos grandes banqueiros, como o experiente William Rhodes, do Citigroup, vêm denunciando a imprudência. Especialistas têm chamado a atenção, há muito mais tempo, para o enorme desequilíbrio dos pagamentos internacionais. Um dos pólos desse desequilíbrio é o crescente déficit externo dos Estados Unidos, associado ao desajuste de suas contas fiscais. O pólo oposto é representado principalmente pela China, embora outros países venham acumulando, há anos, importantes superávits nas transações externas. A bolha do mercado hipotecário não é, portanto, mais que um componente de uma bolha muito maior. Esta se mantém, até agora, principalmente porque os governos dos países superavitários conservam enormes volumes de títulos americanos, cumprindo uma espécie de acordo nunca assinado: os Estados Unidos continuam consumindo e comprando de todo o mundo e os grandes superavitários contribuem para fechar as contas americanas. No fim de junho, segundo números divulgados ontem pelas autoridades dos Estados Unidos, bancos do exterior detinham papéis do Tesouro americano avaliados em US$ 2,182 trilhões. Japão e China detinham pouco mais de metade desse montante. Ninguém sabe quando virá o ajuste nem se vai ser suave ou desastroso. O problema do excesso de recursos permanece. “Os mercados financeiros, e, neles, especialmente os grandes participantes, precisam do medo. Sem medo, vão à loucura”, escreveu esta semana o colunista Martin Wolf do Financial Times. Daí o dilema dos bancos centrais: não podem deixar de intervir, por causa do risco de alastramento da crise, mas não devem agir como anjos da guarda dos imprudentes. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, agosto 16, 2007
Ainda resta a bolha maior
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