Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, julho 10, 2007

Celso Ming - Perda de apetite




O Estado de S. Paulo
10/7/2007

Trabalhando sempre em silêncio, o Banco Central avançou julho adentro comprando menos moeda estrangeira no câmbio interno.

A tabela mostra, mês a mês, como as reservas externas vêm crescendo neste ano. Esse crescimento não reflete o tamanho exato das compras mensais, porque sempre pode haver alguma despesa, ou com juros ou com algum compromisso prévio que também movimenta as reservas. Mas dá para ter uma boa idéia da ação do Banco Central.

As compras, bem mais fracas nos primeiros cinco dias úteis de julho, coincidem com a fase de recuo mais acentuado das cotações do dólar. Ontem, por exemplo, um dia fraco no câmbio por ter sido feriado em São Paulo, o dólar resvalou para abaixo da casa dos 90. Fechou em R$ 1,8980, a cotação mais baixa desde outubro de 2000.

Os mais apressados concluirão que o Banco Central está tirando proveito do maior afluxo de recursos especulativos para deixar que o real se valorize um pouco mais no câmbio interno e, assim, o ajude a combater a inflação, que parece preparar nova decolagem.

Contribuem para essa suposição o forte aquecimento do consumo interno e o início de crise de credibilidade depois que o Conselho Monetário Nacional dotou sua política monetária de um sistema extravagante de mira estrábica: cravou a meta principal de inflação de 4,5% para 2008 e 2009 e, ao mesmo tempo, definiu uma espécie de meta paralela de 4,0%, que prevalecerá apenas se houver condições favoráveis, seja lá o que isso signifique.

O especialista em câmbio da Consultoria Tendências, Nathan Blanche, tem outra explicação para a súbita perda de apetite do Banco Central. 'Não é a procura de dólares que diminuiu; é a oferta de dólares que, em julho, repentinamente caiu em relação a maio e junho.'

As Contas Externas de maio, divulgadas na quinta-feira pelo Banco Central, mostram um salto da entrada de capitais de curto prazo. De janeiro a maio de 2006 haviam entrado no País US$ 19,4 bilhões. No mesmo período deste ano, entraram US$ 30,0 bilhões.

Esse salto levou alguns analistas a avaliar que é o capital especulativo que vem tentando tirar proveito da festa dos juros altos. Blanche adverte que o jorro de capitais de curto prazo em maio nada tem com especulação: 'A maior parte desses recursos corresponde a financiamentos de comércio exterior e a operações de Antecipação de Contratos de Câmbio (ACC).'

Assim, o que teria de entrar apenas em julho já teria entrado em maio e junho. Isso explicaria não só o forte aumento de compras de moeda estrangeira pelo Banco Central em maio, como também a redução em julho.

Mesmo comprando menos dólares, é provável que o Brasil já tenha se transformado em credor líquido do resto do mundo. No fim de maio, a dívida externa de médio e longo prazo estava em US$ 145,3 bilhões e, na sexta-feira, as reservas já haviam chegado aos US$ 148,4 bilhões.


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