Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 18, 2006

Clóvis Rossi - A caixa preta é sua





Folha de S. Paulo
18/4/2006

Pego carona no depoimento de Luiz Antônio Novaes, editor-executivo de "O Globo", ao ombudsman desta Folha, Marcelo Beraba, publicado domingo:
"A maior crítica ao trabalho da imprensa será sempre sobre o que não fizemos antes do início da CPI dos Correios, durante os dois primeiros anos do governo Lula. Fomos pegos de surpresa pelas denúncias que deram origem à crise do mensalão".
Perfeito. Uma coisa, aceitável, é os jornalistas não conseguirmos acompanhar ações, por exemplo, do Comando Vermelho ou do Primeiro Comando da Capital. Atuam ambos em territórios inacessíveis.
Outra é termos passado batidos pelo que o procurador-geral Antonio Fernando de Souza chamou de "quadrilha". Afinal, esta atuava debaixo de nossos narizes e com ela convivíamos diariamente, nos corredores, gabinetes e cafés do Congresso, entre outros locais.
Se o problema fosse só do jornalismo, não seria tão grave. Bastaria que o público trocasse de jornal/revista/emissora/blog, até achar o que lhe trouxesse tudo o que quer e da forma que quer e pronto.
O realmente grave é que também os demais vigias dormiram no ponto (ou foram coniventes), a saber: o Judiciário, o Ministério Público, a Polícia Federal, o Congresso Nacional. Ainda agora, quando o tamanho da patifaria está exposto em praça pública, há gente do PT, mesmo entre os não-denunciados, que prefere aliar-se aos "quadrilheiros" a atuar como representantes do público.
Não é um problema novo. Lembro-me de, há uns 12 anos, quando da crise do Banespa, ter comentado que, como bancos não quebram da noite para o dia, havíamos deixado passar um dinossauro sangrando diante de nossos olhos, sem nem sequer esboçar um grito.
Bem feitas as contas, tem-se que o Estado brasileiro é como caixa preta de avião: só é aberta depois do desastre. E o dono dele, você, fica aí quietinho, mansinho.

 

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