Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 18, 2006

Eliane Cantanhede - Festa e velório




Folha de S. Paulo
18/4/2006

A Petrobras sobe e a Varig cai. Uma vira peça-chave na campanha publicitária do governo e da campanha reeleitoral de Lula, ao atingir a sonhada meta da auto-suficiência na produção de petróleo. A outra vira um pesadelo, com uma dívida impagável e "incomprável" perto dos R$ 8 bilhões e 11 mil empregados com a corda no pescoço.
Com um simples gesto, o de apertar um botão e fazer jorrar petróleo, Lula estará assumindo para si os louros de uma história de meio século e de 15 presidentes, com uma forte marca nacionalista. É uma nova versão do "Brasil que vai pra frente", com direito a festa, dias e dias de publicidade e ampla cobertura jornalística.
Na outra ponta, foi com uma frase curta e direta -""Não cabe a governos salvar empresa falida"- que o mesmo Lula selou o destino da Varig, tão nacional quanto a Petrobras, mas com uma diferença fundamental: uma é estatal, a outra é privada.
A frase de Lula é irretocável, porque de fato não é papel do Estado jorrar dinheiro público em negócios privados. Mas não deixa de ser mais um apelo ao esquecimento. No governo FHC, "esqueçam o que eu escrevi" (declaração, aliás, que o tucano nega). No de Lula, "esqueçam o que eu disse". Porque os jornais não se cansavam de alardear que ele mandara seus ministros salvarem a Varig, marca estratégica para o país e quase mítica para várias gerações.
A determinação parou em José Dirceu e José Viegas. Ambos caíram, levando com eles o último projeto razoavelmente viável para a companhia -a fusão com a TAM, que os próprios diretores e funcionários vetaram. Depois disso, o governo e os diferentes atores envolvidos na questão dedicaram-se a uma dança fúnebre, um acusando o outro, um anulando a proposta do outro, todos inviabilizando qualquer solução factível. O final não poderia ser feliz.
O velório da Varig é um contraponto à festa da Petrobras. Só uma terá efeito real sobre a campanha?

 
 

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