BRASÍLIA - Brasília está dividida ao meio, a favor e contra Nelson Jobim, o presidente do Supremo Tribunal Federal, que teima em anunciar decisões polêmicas e depois dar risadas quando o mundo cai na sua cabeça.
"Não aceito patrulhamentos." Essa é sua frase predileta, inclusive agora, depois de dar liminar contra a quebra de sigilo bancário e fiscal de Paulo Okamotto, presidente do Sebrae, amigo de Lula e tesoureiro da campanha dele em 1989. A CPI dos Bingos pediu a quebra, Jobim negou.
A CPI não explica por que quer quebrar o sigilo de Okamotto, já que ele não tem nada com bingos. A suspeição é que a oposição use a CPI para mirar em Okamotto e tentar atirar em Lula na campanha. Como quebra de sigilo é uma violência e deve ser restrita, justifica-se que o cidadão recorra aos seus direitos e que o Supremo preserve as garantias individuais previstas na Constituição.
Dito isso, registre-se que as decisões de Jobim no Supremo, antes e durante sua presidência, são sempre a favor do Planalto, em nome do que, ontem, ele chamou de "governabilidade democrática". Já era assim no governo FHC e continua no de Lula, ignorando os reclamos do Congresso pela "independência dos Poderes". Ou seja: Jobim passa o trator -e para aplainar o terreno governista.
Mas todas essas considerações esbarram numa dúvida: será Jobim candidato, seja a presidente ou a vice de Lula? Essa dúvida existe porque ele vai deixar o Tribunal em tempo de concorrer e foi reforçada ontem com o seu discurso. Um discurso de defesa da instituição e de seus votos de juiz, mas com claro viés de candidato.
Goste-se ou não delas, as decisões de Jobim têm bons argumentos. Eles podem ruir se o ministro trocar a mais alta Corte pelos palanques. Tudo o que fez e faz estará não só submetido a voto popular mas também a julgamento (e não mais "patrulhamento") da opinião pública.
Se era candidato, Jobim deixou de sê-lo nesta semana. Ou deveria pensar seriamente nisso.
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