Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

CLÓVIS ROSSI O FMI e a festa patética

FOLHA

MADRI - Julio María Sanguinetti, duas vezes presidente do Uruguai (1985/90 e 95/2000) ousa desafiar a sabedoria convencional, que vive falando da suposta onda de esquerda na América Latina.
"Na realidade, mais que uma virada à esquerda, o que se vê é a esquerda transitar resignadamente para o centro", escreve para o jornal espanhol "El País".
Para o centro ou para a direita, ao menos no caso do Brasil de Lula e do PT, como dá prova o caso do pagamento antecipado ao FMI (Fundo Monetário Internacional), ironizado por Sanguinetti.
"Depois de anos em que o discurso da esquerda radical foi o de "não pagar a dívida externa com a fome do povo", nos encontramos surpreendentemente com a idéia oposta: pagar tudo e o quanto antes ao Fundo Monetário para livrar-se de seus condicionamentos", lembra.
No caso do Brasil é pior: Lula praticou e pratica, por gosto e/ou por absoluta falta de qualquer outra idéia, o que o FMI teria pudor de recomendar a qualquer país decente. Ou seja, um superávit fiscal obsceno, enquanto estradas caem aos pedaços, a educação pública continua em ruínas, a saúde idem etc. etc.
Sanguinetti ironiza o pagamento ao FMI e a adoção de políticas que "há apenas quatro ou cinco anos teriam sido [classificadas] de direita ortodoxa e hoje se assumem como o contrário, enquanto o Fundo Monetário vive o êxtase nunca sonhado de que aqueles que mais o questionaram pagam tudo adiantado, juros devidos e capital emprestado...".
Ou, posto de outra, a esquerda que deixou de ser esquerda e alguns esquerdistas de cérebro lavado festejam hoje o que, num passado muito próximo, esculhambariam se feito por qualquer outro governo. Patético.
Enquanto isso, termina Sanguinetti, "é desalentador que pouco ou nada seja proposto para incorporar [a América Latina] ao mundo global da revolução tecnológica e da competitividade universal".

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