O Estado de S. Paulo |
1/2/2006 |
As virtudes principais da criatura humana são três: fé, esperança e caridade. Segundo o apóstolo Paulo, a caridade é a maior delas , pois vai conosco até mesmo quando termina essa nossa efêmera passagem por aqui. Essas três virtudes são os pilares de nosso comportamento, o oxigênio de nossa alma. Sem elas não enfrentamos as ladeiras e curvas desta estrada difícil. Sem caridade, a vida é vazia. Sem fé e sem esperança, ela é muito triste. Toco neste assunto porque tenho percebido que muita gente anda sem fé e sem esperança no futuro, diante destes melancólicos e vergonhosos acontecimentos políticos, que tanto nos constrangem. Vamos reagir. Vamos buscar reforçar a nossa fé e a nossa esperança, apesar de tudo isso. Elas estão abaladas e correm o risco de murchar. Não vamos, porém, aderir a um otimismo fácil, desses que aparecem nos livros de auto-ajuda. Não. Vamos tentar ver o lado bom de toda esta embrulhada. Vamos pensar com objetividade, clareza e, acima de tudo, espírito de verdade. Em toda esta malcheirosa novela de caixa 2, mensalões, concorrências ilícitas, preços superfaturados e outras mutretas, ninguém fez nada sob tortura nem sob ameaça de pau-de-arara. Os personagens agiram por livre e espontânea vontade. A pergunta é: por que estes vilões agiram assim? Existem vários motivos e, por isso mesmo, vários vilões. O primeiro vilão é, sem dúvida, a terrível fraqueza da criatura humana. Sempre que ela dispõe de poder, cede à cobiça e à prepotência. A História da humanidade aí está como prova. São séculos e séculos de violência e pilhagens no falso exercício do poder. São Francisco de Assis dizia que, se no interior de um santo há sempre um bandido que foi vencido, no interior do bandido existe um santo que foi agrilhoado. Por isso é sempre bom estar alerta. Mesmo uma alma que se supõe preparada, com a chegada ao poder, pode ser corrompida. Se a alma não está, o poder vai corrompê-la certamente. Os acontecimentos que explodiram o mundo político brasileiro no ano passado, cujos estilhaços ainda não conseguimos limpar, revelam de forma clara que muitos integrantes do PT não tinham a alma preparada para o exercício do poder. Ao contrário, chegaram lá envenenados por ódios e ressentimentos. O segundo vilão foi a visão errada do próprio PT como partido. Nascido do agrupamento confuso de várias correntes, engessado numa ideologia vaga, sem idéias e sem ideais, era, e ainda é, a reunião de grupos rivais que disputam acirradamente o comando da massa obediente de seus filiados. Sem programa claro de governo, lastreados apenas pela obsessão de chegar ao poder. Era esse seu único objetivo. Esperaram, trabalharam e lá chegaram afinal, graças principalmente às falhas e fraquezas dos adversários. Aí começou o drama: como governar? Eles não estavam preparados para isso, a começar pelo próprio presidente eleito. Ninguém contesta que ele seja uma criatura humana bem dotada por Deus. Mas, por outro lado, com que orgulho e arrogância ele se achou dispensado de multiplicar esses dons gratuitos que o Criador lhe concedeu... O terceiro vilão foi uma herança que se pode chamar de maldita - e nada tem que ver com aquela que seus líderes mencionam sempre em seus discursos de auto-elogio. Esta outra herança é a que eles próprios plantaram ao longo de duas décadas, atuando sempre com intolerância e falta de espírito público. Foi assim que o PT impediu, com êxito, qualquer aperfeiçoamento democrático no nosso sistema eleitoral. Combateu o Plano do Real. Não apoiou a mudança das leis de modernização dos portos. Lutou contra qualquer destravamento das relações trabalhistas. Defende com unhas e dentes a volta de todas as possíveis estatais. Fez o que pôde para impedir a Lei da Responsabilidade Fiscal. Nunca pensaram no bem do País. Nunca se interessaram por uma democracia de verdade. Nunca apoiaram nenhum avanço que significasse o êxito dos que estavam no poder. A atitude fanática dos filiados petistas leva seus líderes a considerarem muito útil a manutenção do atual sistema partidário e eleitoral, com todos os seus defeitos. Por isso impediram sempre qualquer mudança. Mantiveram firme o voto proporcional. Não deixaram andar a cláusula de barreira. Desconversaram sobre os financiamentos de campanha. E, principalmente, não permitiram ajustes no caso da fidelidade partidária. Aquele "arrastão" de mais de 50 deputados federais, logo no início da legislatura, é a prova disso. Tinha de dar no que deu! Para quem acompanha a política de perto, este episódio petista não causa a menor surpresa. Eles apenas repetiram em escala federal o que já haviam feito nas primeiras chegadas ao poder, tanto em prefeituras como em governos de Estados. Agora explodiu em escala nacional. A herança de métodos e processos foi bem aproveitada: formação de bandos, grupos fechados, aparelhamento partidário da coisa pública e, principalmente, incompetência e incapacidade de gerenciamento. Fizeram isso em universidades, fundações, institutos, hospitais, centros de pesquisa, enfim, em todos os setores onde os recursos públicos pudessem correr mais frouxos. Agora, veio tudo à tona. O País está de queixo caído. Para muita gente de coração limpo, que acreditava piamente na compostura deles, a decepção está sendo dolorosa. Até para quem não acreditava, a dose das ousadias ultrapassou limites. Como nos devemos sentir diante de tudo isso? Escandalizados, decepcionados, estupefatos, enojados, cansados, desconfiados? Sim. Mas sem perder a fé e a esperança. Ao contrário, pelo menos agora a realidade está sendo vista. "É possível enganar algumas pessoas todo o tempo, é possível enganar todas as pessoas por algum tempo, mas é impossível enganar todas as pessoas todo o tempo", já dizia Lincoln, com sua imensa experiência. Portanto, vamos ter fé. Não vamos perder a esperança. Vamos todos cantar, de novo: "Apesar de vocês, amanhã há de ser outro dia!" |
Entrevista:O Estado inteligente
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