Folha de S.Paulo - Fernando Rodrigues: Um bom debate - 05/03/2005

BRASÍLIA - Está solto na praça um bom subproduto da fracassada tentativa de aumento de 67% nos salários dos deputados: o debate sobre os custos e a eficiência do Congresso.
Há ali 513 deputados e 81 senadores. A Câmara tem um orçamento anual de R$ 2,478 bilhões. O Senado é de R$ 2,435 bilhões. Resumo: um senador consome muito mais para trabalhar do que um deputado.
Esse números globais mostram que há algo de errado. Quando se olha, de longe ou de perto, não há razão para um senador custar mais caro para o contribuinte do que um deputado.
Há uma falácia pré-coerente no Senado para explicar a discrepância. Os senadores representam os Estados e, portanto, têm de gastar mais dinheiro (sic) para desempenhar suas funções congressuais. Deveria ser cobrado um imposto de quem pronuncia tal ignomínia. Pelo menos financiaria em parte o custo de sua aplasia mental dentro do Congresso.
É evidente que esse debate acabará enterrado na semana que vem. O baixo clero receberá alguns cargos em estatais, além de um ou outro deputado acabar sendo nomeado ministro por Lula na bacia das almas.
Se deputados e senadores quisessem fazer uma reflexão de verdade, teriam de se perguntar o seguinte: por que o Brasil tem de ter 513 deputados e 81 senadores? Isso mesmo. Nos Estados Unidos, há apenas 435 deputados. Além disso, só dois senadores por Estado. Aqui se elegem três senadores por Estado -incluído aí o democratismo rastaqüera de Brasília também ter esse direito.
É claro que os norte-americanos estão errados. Usam esse sistema há mais de 200 anos. Ficaram obsoletos. Bom é o modelo brasileiro.
No caso da Câmara, os deputados poderiam economizar e propor que a representação fosse na base do um-homem-um-voto. Acre, Amapá, Roraima e Tocantins perderiam 24 vagas. Sobraria dinheiro para aumento salarial. Mas esse debate não interessa a ninguém. O gostoso mesmo é cortar os gastos dos outros.