Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, março 21, 2005

FOLHA DE S.PAULO VINICIUS TORRES FREIRE: PT, 25 anos

SÃO PAULO - O petismo-lulismo seqüestrou o lugar da esquerda e o assassinou. Teria sido um crime hediondo ou uma peça de realismo fantástico, a morte de um fantasma?
O espectro esquartejado dessa esquerda ainda anda por aí. Restos de leninismo, o leninismo parateocrático do MST e quejandos, estatismo, ignorância de realidades econômicas básicas, sabujos de Fidel e de Chávez, chorumelas contra o "neoliberalismo", toda essa miséria política e intelectual cediça e mefítica para ser citada in totum. Mas o PT não viveu na prática a inviabilidade de socialismos ou de comunismos nem os superou. O jubileu de prata do petismo-lulismo é o pico de uma fraude histórica, não de um fracasso histórico.
O partido decepou a velha esquerda por oportunismo baixo. Deixou órfãos alguns dos últimos movimentos sociais. Fundado para ser um partido socialista ou operário democrático, ao menos social democrata de fato, em menos de uma década tornou-se um partido do santo operário, acaudilhado por Lula e aparelhado pelo sindicalismo de carreira, versão esperta do sindicalismo de resultados.
O PT, pois, seqüestrou o lugar da esquerda, mas não a matou: manipulou seus espectros em forma de fantoche. Agora, deu de seqüestrar o linguajar da social-democracia francesa, "republicana", que, na França, é ideologia, mas não só. Aqui, é apenas mais uma palavra para disfarçar a recomposição da política conservadora no Brasil.
O PSDB, "social-democrata", é um partido liberal incompetente no seu liberalismo. O PT, "esquerda", é agora "republicano", disfarce do populismo assistencialista e paternalista de Lula. O PFL "liberal" é um asilo de operadores menores da ditadura e guardião do patrimônio histórico do coronelismo e suas novas variantes.
No PT e no PSDB restaram, porém, os poucos nódulos político-partidários de potencial democrático. Mas os dois partidos ora se empenham apenas em arrebanhar os satélites da escória política a fim de reafirmar sua hegemonia. Estando o movimento social moribundo ou onguizado, de onde surgirá a cunha de fato republicana na política do país?

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