Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, março 24, 2005

Folha de S.Paulo - Ressaca da reforma: FHC dá trégua ao PT e apóia a decisão de engavetar mudança- 24/03/2005

DA REPORTAGEM LOCAL

Dizendo-se confiante no crescimento econômico, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso apoiou ontem a decisão do sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, de engavetar a reforma ministerial. Se sua motivação foi de "recobrar o controle da situação [na base]", afirmou FHC, "ele tinha que fazer isso mesmo".
Até ontem um dos mais ferrenhos opositores do governo, FHC disse que Lula "vai ter que devotar um pouco de seu tempo para reconstruir o caminho da base, de sustentação mais sólida".
E que não se sentia confortável para comentar a relação do governo com o Congresso. "Sei como é difícil lidar com certos interesses no Congresso e tal."
Ao responder sobre as razões de Lula para interrupção da reforma, contou que, na Presidência, não gostava quando deduziam o motivo de suas decisões. "Só Deus, os psicanalistas ou padres confessores -às vezes a mulher, né?- sabem mesmo por que você fez", brincou ele, rechaçando a idéia de concorrer à Presidência ou a governo do Estado. "A gente deve ter noção de seu momento na história", disse. E comparou: "É como jogador de futebol. Melhor sair quando está bem".
Contratado para uma palestra a empresários do setor de informática, FHC afirmou que "vamos chegar lá". "Um país que faz aviões que competem no mercado internacional e que perfura poços em águas tão profundas como a Petrobras pode confiar em si e pode imaginar que vai, sim, continuar crescendo."
Aplaudido de pé por uma platéia de 5.000 pessoas, FHC apontou alguns "problemas bastante sérios" pela frente, como a falta de infra-estrutura, a paralisia da reforma tributária, o déficit previdenciário e a ausência de "instrumento de poupança mais a longo prazo que nos permita taxas de juros mais razoáveis para assegurar um horizonte mais tranqüilo".
Embora ressalte que "nem tudo será sempre cor-de-rosa", FHC insistiu nas "condições de crescimento contínuo". Mas fez questão de frisar que esse é o produto de seu trabalho. Segundo ele, o país vem se "capacitando progressivamente". E "as lideranças políticas têm obrigação moral de dizer: "Está bem. Temos dificuldades hoje, mas será possível avançar e dar certo". Não porque eu quero, mas porque o conjunto da sociedade assimilou instrumental suficiente [para isso]".
Disse que o governo manteve sua política cambial porque "não pode ficar aferrado a idéias" e que, "contra pressão", transformou o serviço de telefonia ao privatizar o setor. Citou o fortalecimento do sistema bancário, graças a medidas como o Proer (programa de ajuda a banco privado). FHC pediu a não-divulgação de seu cachê pela organização do evento, que custou R$ 1 milhão.

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