Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 05, 2005

Folha de S.Paulo CLÓVIS ROSSIi: Salário x trabalho - 05/03/2005

MADRI - Não passou o aumento salarial dos parlamentares (que, de quebra, beneficiaria os juízes). Está salva a pátria? Nem remotamente.
O problema não está no salário dos deputados. Está no que devolvem em serviço ao público, que é justamente aquilo para que são pagos.
Deputados e senadores (e juízes) devem, de fato, ganhar muito bem. Desempenham função relevante, como é óbvio em qualquer democracia que se preze. Mas devem também trabalhar muito bem. Alguém aí é capaz de afirmar que os deputados trabalham bem, salvo as poucas exceções de praxe?
O que acontece já faz bastante tempo é o seguinte: os parlamentares passaram a constituir um mundo próprio. Trabalham para reeleger-se. Ou também para eleger/reeleger um compadre, o filho, o neto, a mulher, uma prima, o novo governador ou o prefeito, e por aí vai.
Nem me refiro, é claro, aos que são pura e simplesmente corruptos. E que os há, está aí o próprio presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, a dizer que deputados mudam de partido por R$ 10 mil, R$ 20 mil ou R$ 30 mil. Se se vendem para mudar de partido, é lógico supor que se vendam por outros motivos, certo?
Mas deixemos de lado esses que, espero, sejam poucos, porque se trata de problema policial. Voltemos ao problema político: a indignação do público, que foi decisiva para sepultar a tentativa de aumentar o salário dos deputados, deveria voltar-se mais para o trabalho e menos para a remuneração deles. O essencial é cobrar que trabalhem para a sociedade, nem que seja para o restrito núcleo que os elegeu, e não para si próprios e para os seus (parentes ou correligionários). Essa é a chave da questão.
Sem resolvê-la, até os R$ 12 mil e pico que ganham atualmente os deputados é jogar dinheiro fora, no caso da grande maioria deles.
E talvez seja pouco e, portanto, um castigo para os que de fato têm espírito público.

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