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quinta-feira, março 24, 2005

Folha de S.Paulo - Editoriais: O CASO SCHIAVO
- 24/03/2005

O caso Schiavo, que se tornou o principal destaque da mídia norte-americana nos últimos dias, reúne todos os ingredientes para causar a comoção que vem provocando: direito de morrer, tribunais, dinheiro, relações familiares.
Terri Schiavo sofreu uma parada cardíaca há 15 anos. Desde então, está no que os médicos chamam de estado vegetativo persistente. Não depende de respiradores, mas só se alimenta através de uma sonda. Não tem consciência do que se passa à sua volta. O marido, Michael, quer a retirada do tubo. Os pais dela, os Schindler, querem mantê-lo.
Casos de ortoeutanásia (não prolongar artificialmente a vida de um doente) ocorrem todos os dias em todos os hospitais do mundo. Foi apenas a desavença entre os familiares que levou a questão aos tribunais. Michael afirma que Terri lhe dissera que não desejaria ser mantida viva artificialmente. Os Schindler negam e acusam o genro de bigamia -Michael constituiu nova família- e de querer o dinheiro da indenização que Terri recebeu por erro médico.
A disputa familiar acabou se tornando uma bandeira política para partidários e adversários da eutanásia e transcendeu aos tribunais. A discussão se tornou tão acalorada que, passando por cima das inúmeras decisões da Justiça da Flórida em favor de Michael (por incrível que pareça, legalmente a questão é clara) o Congresso dos EUA se reuniu no fim de semana e aprovou uma lei que dá especificamente aos pais de Terri o direito de voltar a apelar por ela em cortes federais.
É natural que os pais estejam sofrendo e queiram manter a filha viva. Compreende-se também que a população e -por conseguinte- políticos se solidarizem com os Schindler. Mesmo assim, é forçoso reconhecer que a atitude dos legisladores norte-americanos feriu a independência do Poder Judiciário e rompeu o pacto federativo -fazendo jus às críticas que vem sofrendo de diversos setores da opinião pública.

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