Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 25, 2005

Folha de S.Paulo - Editoriais: A AUTOCRÍTICA DE LULA - 25/03/2005

Depois de passar meses ocupando a agenda política do país com especulações, de desgastar ministros inutilmente e de estimular o frenesi fisiológico em torno de uma reforma ministerial que acabou engavetada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez anteontem uma tardia autocrítica desse deprimente processo. Considerou que ministros ficaram "expostos" e que ele próprio e o PT cometeram equívocos no encaminhamento da eleição para a presidência da Mesa da Câmara.
De fato, o governo petista tem feito jus à anedota segundo a qual não necessita de oposição, pois já a traz em si mesmo. No caso da Câmara, além da concorrência de um correligionário, o Planalto e seus articuladores também pagaram pela inabilidade com que vêm lidando com o Legislativo. O resultado foi o coroamento do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que introduziu na cena política um fator a mais de perturbação, que teria sido perfeitamente evitável com um pouco menos de empáfia e um pouco mais de clarividência por parte do Executivo e do PT.
Embora a decisão de interromper a arrastada e paralisante reforma ministerial tenha sido a melhor opção, ela se deu em meio a circunstâncias que não estimulam prognósticos otimistas sobre a capacidade de o governo retomar a iniciativa e avançar na aprovação de medidas relevantes para o país no Legislativo. Os episódios que cercaram o gesto do presidente deixaram claro o grau de deterioração da política nacional, que parece girar unicamente em torno de disputa de cargos, luta por benesses e interesses eleitoreiros.
Para quem imaginou que a ascensão do PT representaria uma oportunidade para a instituição política brasileira dar novos passos na direção do necessário amadurecimento republicano, a realidade até aqui tem se mostrado, para dizer o mínimo, decepcionante. Apesar de o gesto de Lula ter ajudado a recompor a sua autoridade e de sua autocrítica ser um sinal de que algum bom senso ainda subsiste, o governo deverá continuar refém dos interesses que se articulam e geram pressões com vistas à corrida eleitoral de 2006.

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