O resumo da ata do Copom divulgada ontem é o seguinte: o Banco Central deu um sinal de que pode parar de subir os juros, mas condicionou isso à situação externa, que está piorando. O ex-presidente do BC Gustavo Loyola acha que “o Banco Central deveria ter a prudência de dar um tempo no processo de elevação dos juros”. Há sinais ruins na área política: o governo pode perder seu melhor ano, avisam cientistas políticos.
Para entender a ata, o parágrafo-chave é o 26. Ele diz que o Banco Central não está mais olhando para a meta de 2005, sobre a qual a política monetária teria pouco efeito. Já avalia intervalos de tempos maiores: março, junho e dezembro do ano que vem. Esse alongamento do olhar do Banco Central tem efeito positivo porque em doze, quinze ou dezoito meses as projeções de inflação estão abaixo da meta. Isso pode significar até uma mudança na forma de atuação do BC. Em vez de perseguir a meta no ano calendário, alongar para prazos mais longos. A mudança daria mais tempo para se corrigir eventuais desvios da inflação. Se será ou não uma mudança de método, só se saberá no relatório trimestral de inflação que será divulgado na semana que vem.
Este parágrafo olhado sozinho parece indicar que o Banco Central vai parar de subir os juros e esperar. O problema é que a ata também informa que o BC acha que o quadro externo está piorando. Piorou sim. A alta dos juros americanos esta semana já era esperada, mas ela veio envolta em um comunicado do Fed que falava muito de riscos inflacionários. O petróleo está subindo fortemente, o que pode acabar influenciando o preço no Brasil. O Copom avisou que continua trabalhando com a hipótese de não elevação dos preços dos combustíveis este ano, mas o mercado de petróleo está bem instável.
— O Banco Central está dizendo que não tem muito o que fazer este ano, e está olhando para o ano que vem. Reconhece que há uma certa redução do nível de atividade e atribui isso à política monetária. Ou seja, ela já teria feito o efeito esperado. Mas não está 100% claro que os juros vão parar de subir. A maior probabilidade, de qualquer forma, é de que tenham parado — disse Gustavo Loyola, da Tendências Consultoria.
Na opinião dele, é isso que deveria ocorrer.
— O nível de juros já está três pontos percentuais acima do que estava em setembro. Os juros reais estão próximos de 13% ao ano. Como os efeitos da alta dos juros são defasados, o Banco Central deveria ter a prudência de dar um tempo. Do contrário, pode provocar uma queda forte de crescimento — afirma Loyola.
Aqui dentro, também, o quadro piorou por três motivos:
— O nosso nível de preocupação aumentou com a questão interna. Há um quadro de desorganização política, indicações de aumento de gastos e, além disso, foi dado um sinal ruim na interpretação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Tradicionalmente, o Tesouro é o mais conservador em questões fiscais e, desta vez, não foi — comenta.
As últimas semanas foram de confusão política. Entrevistei na Globonews os cientistas políticos Alberto Almeida, da Universidade Federal Fluminense, e Jairo Nicolau, do Iuperj. Ambos acham que o país vive uma crise política na qual o governo perdeu o controle da agenda parlamentar e o Congresso deve continuar em paralisia. Pior do que isso: a Câmara ficou imprevisível.
— O governo foi muito bom no primeiro ano, controlou a pauta, aprovou temas difíceis. Desde a crise de José Dirceu, ele perdeu o controle e agora há este fato inédito, em que ele perdeu toda a mesa da Câmara. Não tem mais como coordenar os trabalhos legislativos. O partido que controla 20 ministérios não tem um cargo na mesa da Câmara e a mesa controla a pauta — diz Jairo Nicolau.
A mesa toma várias decisões sobre o que entra e sai de pauta, pedidos que são postos em votação ou arquivados. Alberto lembrou que isso nunca aconteceu, nem no pior momento do governo Sarney; nem mesmo no Collor:
— O que as últimas duas semanas mostraram é que, além de fora do controle do governo, a pauta legislativa é imprevisível hoje. De repente, podem ser votados projetos muito ruins do ponto de vista fiscal. Não apenas por causa do Severino, mas porque a ideologia dominante do PT é de maior gasto público.
Na política, não se deve esperar a aprovação de reformas importantes e o risco é haver a aprovação de medidas explosivas do ponto de vista do gasto. Além disso, o governo parece mobilizado para a eleição presidencial de 2006.
Jairo acredita que o governo já está contando o tempo para abril/maio do ano que vem, quando haverá candidatos escolhidos. Alberto acha que o cronograma é até mais curto: está de olho no que vai acontecer em setembro deste ano, quando vai se decidir quem fica em que partido para disputar que eleição.
— A agenda do governo já é fortemente eleitoral este ano — afirma Alberto.
Sem ter os meios de iniciativa legislativa, com olho na eleição que vai acontecer daqui a um ano e meio, e correndo risco de tomar gol contra na área fiscal, o governo está perdendo o que poderia ser o melhor ano para avançar um projeto consistente de reformas.
Enquanto isso, como bem lembrou a ata do Copom: nuvens começam a se formar no horizonte da economia mundial. O melhor momento para garantir o crescimento sustentado está passando.
Entrevista:O Estado inteligente
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