Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 23, 2005

Folha de S.Paulo - Fernando Rodrigues: A virtude de Severino - 23/03/2005

BRASÍLIA - Severino deu um ultimato a Lula: o PP tem de ganhar um ministério ou vai para a oposição. O presidente da República se irritou. O PP acabou sem ministério e muita gente ficou reclamando.
Reclamam porque não ganharam cargos. Reclamam porque Severino fala demais e atrapalha tudo. Reclamam porque os políticos brasileiros precisam ter mais etiqueta ao fazer discursos em público. Em resumo, ninguém gosta de se olhar no espelho no mundinho político de Brasília.
É verdade que Severino Cavalcanti muitas vezes tem um comportamento desconectado das necessidades do país. O exemplo mais notório é sua defesa de um aumento do salário e dos benefícios dos deputados.
Mas, quando fala em público -ainda que sem querer- o que outros políticos sussurram em privado, Severino presta um serviço ao país. Mostra exatamente como funcionam as barganhas políticas. É errado imaginar que um deputado que seja advogado e fale português corretamente seja muito diferente de Severino.
Alguém duvida que Renan Calheiros e José Sarney façam pressão sobre Lula para que o PMDB tenha mais poder? Como tudo se dá a portas fechadas, ninguém se choca.
A rigor, Severino é criticado por falar em público aquilo que a maioria dos deputados e dos senadores se cansa de dizer em privado.
Lula, horrorizado, cancelou a reforma ministerial. Só fez acertos que considerava mais urgentes. Por exemplo, nomeou Romero Jucá para ministro da Previdência. Como se sabe, esse senador do PMDB de Roraima é mundialmente aclamado pelos seus conhecimentos nessa área.
O Congresso Nacional seria melhor se todos falassem sem pudor dos cargos que receberam de Lula para dar a amigos e correligionários. Ficaria mais fácil para o eleitor entender o que se passa ali. Mas esse mundo não existe. Severino já foi enquadrado. A vida seguirá normal. A fisiologia correrá solta. Como sempre.

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