Entrevista:O Estado inteligente

domingo, março 20, 2005

O DIA - Dora Kramer Palocci ocupa espaço político

Enquanto os articuladores formais do Governo andam às tontas batendo cabeça, tronco e membros, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tem tratado de assumir, pelo menos junto aos governadores, o papel de interlocutor político.

Nas últimas conversas de Palocci com vários deles, o ministro não se restringiu a assuntos da economia, entrando no terreno das votações no Congresso, pedindo e oferecendo ajuda aos governadores para reformar, no Senado, recentes decisões da Câmara que criam despesas excessivas e ferem a política de ajuste.

A mais dramática delas para os estados dá a delegados de polícia e magistrados de tribunais regionais o direito ao teto salarial de R$ 21.500, equivalente ao salário permitido para os ministros de tribunais superiores.

Nos últimos dias, o ministro da Fazenda tem se mostrado particularmente empenhado em coordenar com os governadores as ações de suas bancadas.

Palocci telefona, concede audiências e, no dizer de um governador do Sudeste, anda mais acessível que nunca.

“Antes, era dificílimo falar com ele. Agora, não; outro dia mesmo às oito da manhã ele já estava me telefonando”, conta. O novo comportamento já é objeto de troca de impressões entre os governadores que, diga-se, encaram com entusiasmo a nova fase.

Por dois motivos principais. Primeiro, porque há muito tempo estavam sem nenhum tipo de interlocução mais organizada junto ao Governo federal. As reuniões tão freqüentes no início simplesmente deixaram de acontecer.

Quando Palocci se mostra tão solícito, disposto a ouvir seus pleitos, ampliando a agenda de temas para procedimentos políticos no Congresso e abrindo espaço para mais contatos diretos, os governadores interpretam que há interesse do Planalto em retomar o diálogo com eles.

Sim, porque não sabem se o ministro da Fazenda está adotando essa conduta por determinação do presidente da República, mas têm certeza de que Antonio Palocci não o faz à revelia dele. Lula obviamente, acreditam, tem conhecimento.

O segundo motivo de satisfação com o canal de conversas aberto por Palocci é a contenção de muitos ímpetos eleitorais. Na visão dos governadores, isso segura o debate. E mesmo os de partidos de oposição consideram um alívio poder deixar o tema para mais adiante.

“Nenhum governador quer ficar com a eleição na sua porta agora”, resume um deles, reconhecendo que a indiferença do governo estimulou muitos chefes de executivos estaduais a entrarem no embate eleitoral desde já.

Nesse sentido, a chegada de Antonio Palocci à cena política ajuda aos propósitos do Planalto pois, pelo menos no tocante aos governadores, reduz a tensão política do ambiente.

O histórico das relações petistas dentro do Governo, no entanto, não autoriza expectativas muito positivas a respeito da provável reação dos articuladores formais a essa recente incursão de Palocci pela política.

Itamar lá

Assim como surgiu, desapareceu de cena a decisão do embaixador Itamar Franco de deixar o posto e voltar ao Brasil para se dedicar à política em Minas Gerais.

A suspensão da volta é obra conjunta do presidente Luiz Inácio da Silva e do governador Aécio Neves, cujo interesse comum é manter o embaixador em situação o mais confortável possível. Desde que longe.

O presidente inclusive defende a tese de que Itamar não sabe a sorte que tem, pois é talvez o único político capaz de obter de qualquer presidente o posto no Exterior que melhor lhe convier.

Mantê-lo à distância, entretanto, requer esforço constante. Em breve, por exemplo, um emissário categorizado estará indo para Roma a fim de conseguir de Itamar uma renovação de permanência por pelo menos mais três meses.

Acordo tucano

O PSDB resolveu suas divergências internas em relação à melhor ocasião para a escolha e lançamento do candidato à presidência da República.

Venceram os defensores do anúncio da candidatura só na virada de 2005 para 2006. Ficou combinado que os outros param de pedir que o partido lance um candidato agora e se juntam num grande mutirão tucano para imprimir ao Governo Lula a marca da incompetência.

Para isso, vão precisar de unidade de discurso e de ação. No tocante ao Congresso, o PSDB acertou uma maior aproximação entre as bancadas do Senado e da Câmara.

O alto tucanato acha que o atuação do senador Artur Virgílio deve servir de modelo para o líder na Câmara, Alberto Goldman, agressivo como Virgílio, mas tido como um tanto antipático. Precisaria amenizar a forma, sem prejuízo do conteúdo.

Última forma

A lista dos possíveis candidatos do PSDB é uma obra aberta, cada hora sofre uma nova alteração dependendo das circunstâncias. Há duas novidades mais recentes. Uma é a inclusão, a sério, do nome de Fernando Henrique Cardoso como possibilidade para a disputa do governo do Estado de São Paulo.

FH rejeitava, mas já aceita a idéia. A segunda é a entrada do nome do prefeito José Serra na lista das probabilidades à Presidência da República.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog