NOVA YORK. À medida que se aproxima o dia da eleição presidencial, a vantagem do democrata Barack Obama se consolida, e os debates tiveram parte importante nesse trajeto. A mais recente pesquisa do Pew Institute, divulgada ontem, mostra uma liderança de nada menos que 14 pontos percentuais para o candidato democrata depois do terceiro debate, exatamente o dobro do resultado verificado na pesquisa feita após o primeiro debate, que se realizou em 26 de setembro. O mais grave para o adversário republicano McCain é que ele teve em Hempstead, na quarta-feira passada, sua melhor atuação nos debates, e isso está registrado em algumas pesquisas, embora em todas elas Obama tenha vencido.
A questão é que McCain foi melhor que ele mesmo, se superou no derradeiro debate, mas não teve capacidade de jogar seu oponente na lona.
Ele saiu daquela noite na Universidade de Hofstra com dois motes que estão sendo explorados nesses últimos dias antes das urnas: a afirmação de que não é o presidente Bush, e o personagem de Zé, o encanador, para tentar atrair os votos da classe média trabalhadora.
Depois disso, em todos os comícios em que comparece, e mesmo nos anúncios pela televisão, McCain repete o mantra “eu não sou George Bush” e fala dos impostos que supostamente Obama vai tirar da classe média empreendedora.
Mas o que fez com que McCain se saísse melhor do que nas vezes anteriores foi justamente a retomada do homem cordial que ele era no início da campanha, o republicano ameno e independente que dava aos eleitores independentes uma alternativa de voto.
Mas McCain não conseguiu levar sua campanha para uma trajetória mais leve, e teve que assumir a candidatura de Sarah Palin como vicepresidente para recuperar os eleitores da base direitista do partido que estavam decepcionados com sua “mão leve” nos ataques a Obama.
Palin cada vez mais representa essa interferência pesada da direita política na campanha de McCain, e cada vez mais afasta os eleitores independentes.
A mesma pesquisa do Pew Institute indica que a presença de Palin na chapa republicana parece enfraquecêla contínua e crescentemente: 49% dos eleitores têm uma impressão desfavorável a ela, contra 44% que a vêem de maneira favorável.
Esses números eram, em meados de setembro, favoráveis a Sarah Palin por 54% a 32%. Pior: as mulheres, especialmente as de menos de 50 anos, tornaram-se crescentemente críticas a Sarah Palin, chegando a 60% as que não gostam dela, quando esse número era de 36% em meados de setembro.
Quando Sarah Palin aparece como na noite de sábado no programa humorístico “Saturday night live”, aceitando com bom humor as críticas do programa e participando das brincadeiras, sua popularidade melhora. E a situação para McCain piora porque, ao contrário das opiniões sobre Joe Biden, o vice de Obama, as sobre Sarah Palin têm uma influência na decisão de voto republicana, para o bem ou para o mal.
A confiança do eleitor republicano em uma vitória de McCain decresceu sensivelmente desde a última pesquisa, há um mês: hoje, cerca de 40% dos republicanos acreditam em uma vitória de McCain, contra 70% da pesquisa anterior. Naquela ocasião, apenas 13% dos republicanos admitiam uma vitória de Obama, número que agora já é de 35%.
Obama já aparece como o candidato que inspira mais confiança nos eleitores em assuntos em que antes ele era uma interrogação, como Iraque e terrorismo, o que mostra que a tentativa da campanha republicana de transformá-lo em uma escolha arriscada, e as sugestões de seus laços com um ex-terrorista não surtiram efeito.
A pesquisa do Pew Institute detectou um movimento que pode ser decisivo entre os eleitores: nada menos do que 31% deles planejava votar antes do dia da eleição, o que pode indicar que McCain terá ainda menos tempo para reverter o quadro. E mais: entre os que votarão antecipadamente, beneficiandose de um sistema eleitoral que permite o voto pelo correio e agora também nas urnas, 58% apóiam Obama.
Uma das esperanças dos estrategistas republicanos é que a situação econômica, que tem beneficiado os democratas, acalme-se até o dia 4 de novembro, permitindo que o eleitor analise as opções longe dos impactos das más notícias financeiras.
Obama também está ganhando nos chamados “estados decisivos” por uma margem de 52% a 37%, nos mesmos estados onde o atual presidente George Bush venceu na maioria, por margens que chegaram a ser de 21% em Indiana. O candidato democrata John Kerry venceu em cinco deles, todos com pequenas margens.
Esses resultados, embora em alguns estados como Nevada e Carolina do Norte McCain continue competitivo, só tornam mais crucial uma outra vantagem de Obama: a arrecadação de fundos para a campanha.
O democrata acaba de bater um novo recorde, recebendo US$ 150 milhões de dólares de doações em setembro, o que lhe permite utilizar mais a propaganda eleitoral paga na televisão nos estados em que a disputa está acirrada.
De acordo com a avaliação de um grupo independente de análise de mídia, os anúncios de Obama na TV são na proporção de 4 para 1. Só na última semana a campanha de Obama transmitiu 50 mil spots de 30 segundos em cadeias nacional, local e TV a cabo, o que representaria, segundo a mesma análise, cerca de 17 dias de anúncios seguidos.
Na Flórida, por exemplo, um estado importante e que está mudando para apoiar os democratas, a campanha de McCain não transmitiu nenhum anúncio em Miami na última semana, enquanto Obama colocou na TV 1120 spots. Na internet, o massacre foi maior ainda: no mês passado, foram colocados nada menos que 914 milhões de anúncios, contra 7,8 milhões de Obama.
Entrevista:O Estado inteligente
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