Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 28, 2008

O QUE O PT QUERIA E O QUE CONSEGUIU Por Reinaldo Azevedo

Na ediçao Nº 2055 de VEJA, de 9 de abril deste ano, o repórter Otávio Cabral revelava quais eram os planos do PT para massacrar a oposição. Reproduzo a reportagem porque ela informa o grau de arrogância desse gente. E, claro, para que vocês comparem a distância entre a pretensão e a realidade. O mesmo PT já começou a anunciar novos planos mirabolantes.

O plano A e o B

O presidente Lula vestiu o uniforme de campanha. Já visitou treze estados e quer visitar outros treze até o fim do ano. Na segunda-feira, esteve no Rio de Janeiro, onde participou da cerimônia para anunciar o início das obras de um complexo petroquímico. Lá, como se estivesse num comício, atacou a oposição. No Rio Grande do Sul, o presidente visitou um estaleiro e uma universidade. Cercado de políticos aliados, mais uma vez mandou bala na oposição, chamando de incompetentes os governos anteriores ao seu. Na sexta-feira, Lula esteve em São Paulo para lançar um programa de incentivo ao turismo na terceira idade. Para se ter uma idéia do ritmo intenso da agenda presidencial, basta citar que o presidente viajou mais vezes no mês passado do que em setembro de 2006, quando estava em plena campanha pela reeleição. Existem várias razões para explicar o ímpeto de Lula nos palanques, além da mais óbvia de todas: ele adora esse tipo de aparição pública em que domina a cena. Alimentar a candidatura da ministra Dilma Rousseff à sucessão é outra razão. Instalar o clima de campanha é também uma cortina de fumaça para tirar do foco o escândalo do dossiê dos gastos da Presidência passada (veja a reportagem). O ímpeto do presidente levantou também a lama do fundo de um assunto que, por delirante, já havia se assentado. Fala-se aqui da tese do terceiro mandato para Lula. Entre todas as razões e especulações, a mais provável é a de que o animal político alojado no âmago do presidente já farejou as eleições municipais deste ano e quer não apenas vencê-las, mas "massacrar" a oposição, conforme tem dito o próprio presidente.

Desde o ano passado, quando o governo foi derrotado na proposta de prorrogação da CPMF, Lula assumiu pessoalmente as articulações políticas mais delicadas e ambiciosas. Pensando em 2010, o presidente deu sinal verde para seus negociadores atuarem de maneira a tentar minar todas as possibilidades de sucesso eleitoral da oposição nas principais capitais do país. Em São Paulo, o presidente está atuando pessoalmente para viabilizar a ministra Marta Suplicy. Pesquisas mostram que ela é a única candidata capaz de derrotar o grupo político do governador tucano José Serra, favorito para suceder a Lula. No Rio de Janeiro, o presidente convenceu o governador Sérgio Cabral, do PMDB, a apoiar o petista Alessandro Molon, abandonando uma aliança certa com o prefeito Cesar Maia, do DEM. Molon tem chances remotas de sucesso, mas o objetivo do governo é embolar a disputa e beneficiar, num eventual segundo turno, o senador Marcelo Crivella. O plano de ataque transcende a lógica política e releva qualquer consideração de aspecto moral. Para garantir o sucesso eleitoral em outubro, valem alianças com o ex-presidente do Congresso Renan Calheiros, o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti, o deputado Paulo Maluf e o ex-governador Orestes Quércia. Este último, aliás, só consolidou seu apoio e o do PMDB paulista à candidatura de Marta Suplicy à prefeitura depois de receber do governo uma diretoria da Eletrobrás.

Para não dar chance alguma aos opositores, o presidente tem sacrificado candidaturas do próprio PT. Em Goiânia, por exemplo, o partido pretendia lançar um candidato para disputar com o atual prefeito, o peemedebista Iris Rezende. A máquina partidária subordinada ao presidente entrou em ação. Comandada por Delúbio Soares, o ex-tesoureiro de campanha de Lula, o partido decidiu optar por uma aliança com Iris, um inimigo histórico dos petistas goianos. Em Belo Horizonte, onde o PT comanda a prefeitura há sete anos e o governador tucano Aécio Neves é tido como aliado federal, articula-se uma estranha aliança para que o candidato não seja nem petista nem tucano. O movimento, aparentemente bizarro, esconde outra possibilidade: a de o governador Aécio, quem sabe, ser candidato à sucessão de Lula, enfraquecendo as pretensões presidenciais dos tucanos em 2010. "Temos de esmagar a oposição", disse o presidente em uma reunião com comandantes de partidos aliados na semana passada. Em Salvador, o governo trabalha para isolar o deputado ACM Neto, que vai disputar a prefeitura pelo DEM. O presidente quer todos os partidos da base do governo, incluindo o PT, apoiando a reeleição do peemedebista João Henrique.

"Lula considera que a eleição deste ano é uma prévia de 2010. Principalmente nas cidades mais simbólicas, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte", afirma o presidente do PMDB, Michel Temer, que se reúne com Lula toda semana no Planalto para tratar das eleições. "Quanto mais fraca ficar a oposição, mais fácil será para a nossa aliança continuar no poder em 2010." "A intenção de Lula é usar o bom momento da economia para massacrar a oposição", avalia o presidente do DEM, Rodrigo Maia. "Se conseguir uma grande vitória eleitoral em 2008, Lula terá força para colocar na rua a tese do terceiro mandato em 2009." O problema dessa tese absurda, rejeitada publicamente várias vezes pelo próprio presidente, é que ela surge sempre que há uma oportunidade. Na semana passada, foi a vez de o vice-presidente José Alencar falar "espontaneamente" sobre o tema. "Lula tem feito muito, mas ainda há muito por fazer. O Lula deseja fazer o seu sucessor. Mas eu digo a você que, se perguntarem aos brasileiros, o que os brasileiros desejam é que o Lula fique mais tempo no poder", afirmou Alencar. O vice-presidente é conhecido por sua franqueza e pela espontaneidade com que costuma tornar público o que pensa. Na véspera, porém, ele comunicou a Lula que daria a declaração – da mesma maneira que o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), compadre do presidente, lhe disse que apresentará nesta semana ao Congresso projeto de emenda constitucional que acaba com a reeleição e cria um mandato de cinco anos para presidente, governadores e prefeitos. A proposta inclui uma emenda que permite aos atuais governantes concorrer a mais um mandato com a nova regra. Sob medida para Lula ficar treze anos no Planalto.

"Lula não impedirá que o PT ponha o bloco do terceiro mandato na rua. Mas essa proposta é um golpe constitucional, uma subversão da democracia por meios democráticos", afirma o filósofo Denis Lerrer Rosenfield, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Com a oposição reduzida, a proposta, é óbvio, tem mais chances de progredir. Não encontraria sequer oposição social. Ao contrário. Uma das estratégias do governo foi anestesiar os movimentos sociais com verbas, cargos e convênios. Desde o início do governo Lula, eles deixaram as ruas em direção aos gabinetes de Brasília. O MST comanda importantes setores do Incra. A Força Sindical controla o Ministério do Trabalho por meio do pedetista Carlos Lupi, que vem fazendo a festa de entidades sociais amigas com distribuição de verbas. A poderosa CUT tem o comando do Ministério da Previdência, com seu ex-presidente Luiz Marinho. Na semana passada, Lula ainda fez um novo afago aos companheiros ao vetar a obrigatoriedade de sindicatos, centrais sindicais e confederações prestarem contas dos recursos que recebem. O presidente justificou a decisão dizendo que a fiscalização poderia acabar com a autonomia sindical. Ou seja: o dinheiro destinado aos sindicatos que cada trabalhador é obrigado a descontar em seu contracheque não está sujeito a nenhum tipo de investigação oficial. "Foi um erro histórico, porque desmerece a biografia sindical do presidente", disse o ex-ministro do Trabalho Almir Pazzianotto.

A combinação das aparições do presidente em eventos que mais se assemelham a comícios, do massacre da oposição e do peleguismo desenfreado dos movimentos sociais, por isso, chama a atenção dos céticos. Afinal, mesmo que o presidente não queira, pode sempre acabar sendo convencido por discursos áulicos. Aliás, recentemente surgiu uma nova proposta para impedir uma aposentadoria temporária de Lula. O ministro José Múcio, de Relações Institucionais, quer fazer respiração artificial em um projeto do senador Arthur Virgílio parado há tempos no Congresso que transforma ex-presidentes em senadores vitalícios. Como interessa a praticamente todos os partidos, o projeto não teria dificuldade em ser aprovado. No mundo, algo similar só existe no Paraguai. Enquanto isso, Lula continua sua campanha para ver que alternativa lhe será melhor no futuro.

Arquivo do blog