Nas vezes anteriores, havia mais chão sobre o qual pisar. Podiam errar na dose, mas não era tão difícil como agora saber para onde as coisas se encaminhavam. Não havia tanta incerteza.
Pode-se criticar o diagnóstico do Banco Central (BC) prevalecente desde abril deste ano, mas há coerência nele. Tratou de puxar pelos juros para tirar força do consumo excessivo que empurrava os preços para cima, dado que a oferta bombeada pela produção local e pelas importações não conseguia acompanhá-lo. Enquanto o consumo vem avançando perto de 9% ao ano, o avanço da produção não passa dos 5,5%. A principal causa dessa estirada do consumo são as despesas de todo o setor público (e não só do governo federal), mas o BC não questiona isso. Toma como dado da realidade sobre o qual montar o contra-ataque dos juros.
Como das outras vezes, os dirigentes do BC examinarão o que está acontecendo em todos os setores que direta ou indiretamente têm a ver com a inflação e calibrarão os juros ante esse quadro.
A inflação continua acima dos 6% ao ano, mas, dentro do pressuposto de que é preciso olhar para a frente e não para o que aparece no retrovisor, é preciso agora levar em conta outros elementos que de alguma forma desviam, contêm ou apressam a velocidade da inflação.
O câmbio é, nesse momento, uma incógnita. Na última reunião do Copom, em 10 de setembro, o dólar estava a R$ 1,78. Agora está a R$ 2,35, ou 32% acima,mesmo com maciço bombardeio de vendas de dólares pelo BC.
E um dólar mais caro tende a puxar para cima tanto os preços dos importados como os dos produzidos aqui dentro com cotação em moeda estrangeira (alimentos, matérias-primas, componentes, máquinas, etc.).
Outro fator altista é o preço do dinheiro (crédito). As linhas de financiamento estão praticamente fechadas e o momento é de escassez de dinheiro vivo. Está difícil arrumar capital de giro para pagar salários. E crédito mais caro aumenta os custos de produção. Os juros de mercado estão se descolando da Selic (juros básicos) porque o credor está cobrando mais nas operações.
Além disso, a disparada das despesas públicas encontra um obstáculo natural: a desaceleração da arrecadação dos governos, com a retração da atividade econômica. Também ajudam a derrubar a inflação a baixa dos preços das commodities e dos alimentos e a revisão dos projetos de investimento das empresas em quase todos os níveis da atividade econômica.
Em contrapartida, o dinheiro circula mais devagar e, assim, também provoca menos inflação. Além disso, num momento em que os governos dos países mais ricos aliviam sua política monetária, parece improvável que o Brasil se coloque na contramão e aumente os juros.
Nas últimas semanas, o BC preferiu manter os juros onde estão e, para aumentar o volume de dinheiro no mercado, reduziu o depósito compulsório, ou seja, aumentou o volume de dinheiro com que o banco pode trabalhar. Parece mais provável que esse procedimento continue.