Toda eleição tem lista de “ganhadores” e “perdedores”. Também vou fazer a minha. Deixarei de lado alguns nomes de expressão mais regional. Sim! Como sempre, é uma leitura pessoal. GANHAM JOSÉ SERRA – Individualmente, é o maior vencedor da eleição. Seu candidato, Gilberto Kassab, tinha 9% das intenções de voto há menos de três meses. Conseguiu a reeleição com uma votação história e atribui ao governador o seu triunfo. O tucano passou a ser considerado, com tal desempenho, o mais forte candidato do seu partido à Presidência. Não custa lembrar que o PMDB coligou-se com Kassab em São Paulo — e Serra tem, no partido, serristas em penca. GILBERTO KASSAB – Surge como uma liderança de alcance nacional por razões óbvias. Sempre foi bom articulador de bastidores. Faltava-se lhe uma vitória convincente numa disputa majoritária. Alguém imagina algo mais convincente? Queira ou não, é pré-candidato natural ao governo de São Paulo. PSDB – Perdeu algumas prefeituras, mas ainda é o segundo partido em número de cidades: 788. Está atrás apenas do PMDB: 1207. E manteve a Prefeitura de São Paulo, que compartilha com o DEM. Fortalece-se também porque, obviamente, seu principal nome à Presidência, Serra, sai do processo com mais musculatura. DEM – Vejam como sou escandaloso, não? O partido perdeu muitas prefeituras. Elegeu “apenas” 501. Embora tenha se transformado na Geni dos petistas e do PCB (Partido dos Colunistas Brasileiros), fez apenas 57 prefeituras a menos que o superpoderoso PT. Nestas eleições, fez só uma prefeitura, mas é justamente a de São Paulo. E vê nascer um líder num estado onde sempre foi fraco. Sim, todos dirão que o DEM é perdedor. Eu não acho. Fazer o quê? Ah, sim: em Salavador, ajudou a derrotar o PT. PMDB – É o grande vencedor deste pleito, sem dúvida, com 1207 prefeituras. Mas não tem e não terá candidato à Presidência da República. Já havia avançado formidavelmente no primeiro turno e, agora, consolida essa posição com as vitórias em Porto Alegre e Salvador. FERNANDO GABEIRA – Chegou bem perto de vencer a eleição no Rio — e talvez tivesse chegado lá não fossem três fatores: - a escandalosa abstenção na cidade: deixaram de votar 927.250 eleitores, um índice superior a 20%; - a impressionante baixaria de que foi vítima; - um certo discurso antipolítico que pode ter diminuído o número de cabos eleitorais nas ruas. É certo que passa a ser considerado uma referência na cidade para disputar o governo em 2010. Mais: fez a sua estréia como político de massas. Era, até então, o chamado "deputado de opinião”. PERDEM LULA – Entrou de cabeça na eleição em São Paulo. E São Paulo elegeu Kassab com uma clareza inequívoca. Uma coisa é perder por dois ou três pontos. Outra é perder por 18. Nas capitais em que o PT estava bem, o partido elegeu o prefeito. Onde não estava, a ação de Lula foi irrelevante. MARTA SUPLICY – Individualmente, é a maior derrotada de 2008. Teve menos votos do que em 2004 nas duas etapas eleitorais e viu aumentar a sua rejeição. A frase “relaxa e goza”, em vez de esquecida, foi reavivada na memória do eleitor. Pior: sua campanha optou pela baixaria sem medo de ser feliz, ao fazer especulações sobre a vida privada do adversário — o que também manchou a sua biografia. Quando deu início à corrida, seu grupo político queria ver nela uma presidenciável. Hoje, os adversários torcem para que seja a candidata do PT ao governo de São Paulo. É preciso verificar até onde Marta não virou o Maluf dos petistas: basta ela se candidatar para eleger o adversário. PT – Sim, perdeu. Embora quase todo mundo diga que ganhou. Tinha nove capitais, ficou com seis. Somadas, não chegam ao Orçamento ou à população de São Paulo, que ficou com o arqiinimigo DEM. Perdeu todas as capitais que disputou no segundo turno. Recuperar o governo de Porto Alegre era um ponto de honra. Dançou com uma diferença de 18 pontos. Cresceu muito nas pesquenas cidades em razão do bolsismo... AÉCIO NEVES – Como??? Márcio Lacerda ganhou, Reinaldo!" É, mas o governador saiu do processo menor do que entrou, a despeito de sua impressionante capacidade de fazer malabarismos verbais repetidos pelo Partido dos Colunistas. Os solavancos da eleição em Belo Horizonte evidenciaram o artificialismo da aliança PSDB-PT. Longe de ser um exemplo para o Brasil, provou que é temerária até mesmo em Minas. O PSDB perdeu prefeituras no Estado em vez de ganhar. O exotismo eleitoral de BH fez Aécio passar por três fases: A – “Aqui está a novidade do pós-Lula”; B – “Admito que não deu certo”; C – “Aqui está a novidade do pós-Lula” — de novo. A última leitura, digamos, exótica que seu grupo espalha é que ele ajudou a destruir o PT de Minas. Excesso de malabarismo retórico deixa potenciais aliados um tanto assustados. Ademais, ajudou a fortalecer o PMDB. CIRO GOMES – Também ele? Também ele. Lacerda, eleito em BH, é um aliado seu, claro, claro... Mas foi eleito pelas máquinas do PSDB e do PT. Ciro não tem nada com isso. Já em Fortaleza, onde ele tinha "tudo com isso", apostou suas fichas na ex-mulher, Patrícia Saboya. Ela não passou nem para o segundo turno. DILMA ROUSSEFF – Jura, Reinaldo? Juro! Lembram-se da sua ida quase teatral para dar apoio à candidata do PT à Prefeitura de Curitiba, Gleisi Hoffmann? Pois é... Beto Richa se elegeu no primeiro turno com quase 80% dos votos. Depois Dilma decidiu declarar seu apoio decisivo à petista Maria do Rosário, em Porto Alegre. José Fogaça venceu por estratosféricos 18 pontos de diferença. Como a gente vê, Dilma não transfere o que nunca teve: votos. GERALDO ALCKMIN – Era o candidato certo do PSDB ao governo de São Paulo. Mas decidiu apostar no confronto com o governador José Serra e sair candidato à Prefeitura, fazendo uma espécie de ponte com Minas. Começou o ano como favorito e não passou nem para o segundo turno. Agora, só será candidato se Serra concordar. Mas a fila, pouco importa o que digam todos os atores políticos, passou a ter um primeiro colocado: Kassab. Em política, não existe “jamais”. SÉRGIO CABRAL – Apesar da vitória de Eduardo Paes, Sérgio Cabral não se saiu tão bem. Em política, o placar, se dilatado ou não, faz diferença, sim. O governador do Rio perdeu disputas importantes no interior do Estado e, por muito pouco, não vê uma espécie de movimento cívico vencer a eleição na capital, com Fernando Gabeira. A brutal abstenção pode ser um indicador de problemas. Mais: a campanha na capital, lamento muito, esteve longe de lustrar a civilidade política. O que poderia ser uma das disputas mais elevadas do país evoluiu para uma impressionante e decepcionante soma de baixarias. Até a última hora, até o último dia. A primeira aparição do governador e do prefeito eleito expressavam o excesso de excitação de quem havia passado um grande aperto — faltava comedimento. Cabral entrou no processo para se credenciar a ser vice de alguém. E eu acho que não se credenciou. Ah, sim. O Chico Buarque também perdeu. Ele promete agora dar apoio a Raúl Castro se um dia houver eleições diretas em Cuba. |
Por Reinaldo Azevedo |
Entrevista:O Estado inteligente
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segunda-feira, outubro 27, 2008
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