Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 25, 2008

CELSO MING Chope e cautela

É continuar tomando o chopinho de sempre, sem dar muita trela para essa gente que só fala de crise - recomenda o presidente Lula.

E ontem mesmo ele disse, na reunião com o comitê gestor do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), que "é questão de honra manter nossa economia aquecida...", como se essas coisas devessem ser tratadas como ponto de honra.

É dever de todo dirigente político manter elevado o moral de sua gente e, mais do que isso, tomar decisões que revertam uma adversidade qualquer. Mas não dá para ignorar os fatos. O nível de incerteza hoje é tão grande que não dá para recomendar despreocupação. E isso significa que não há condições de prever com segurança o que vem pela frente. É possível que, dentro de alguns meses, a crise tenha ficado para trás. Mas é apenas uma possibilidade. A maioria das apostas é de que o mundo passará por forte e prolongada recessão. Se for isso, haverá perda de patrimônio, de renda, desemprego e por aí. E isso pede mais cautela de qualquer pessoa.

Enfim, não dá para sair pro chope como se nada estivesse acontecendo. O governo Lula bem que está tentando armar políticas anticíclicas. Mas, enquanto ele faz o que tem de ser feito, para as pessoas comuns a hora é de sair de capa e guarda-chuva. E isso vale para instituições, empresas e qualquer um de nós. É como um seguro para ser usado em caso de sinistro. Se não vier a ser necessário, melhor; se for, haverá proteção provida a tempo.

Talvez o presidente Lula queira evitar cautela exagerada. Se todos reduzirem sua disposição de usar o cartão de crédito, cairão o consumo, a produção, o faturamento das empresas, o emprego, o salário... E cairão a arrecadação e as despesas públicas. E aí entramos na questão política.

Lula tem um problema. Imaginava que poderia eleger facilmente seu sucessor, graças a seu prestígio pessoal e aos bons ventos da economia. As eleições municipais mostraram que voto não se transfere. Assim, o que será, em 2010, do candidato do governo, num ambiente de paradeira e da insatisfação que virá com ela?

Se já era difícil convencer o eleitor a votar na Mãe do PAC, imagine-se o que seria com o PAC empacado e com o sistema produtivo quase empacado.

A economia brasileira está bem ancorada. Cresce mais de 5% e isso garante bom arrasto para 2009. Tem reservas de US$ 205 bilhões; é credora líquida em dólares e detém uma dívida pública em reais que provavelmente fechará o ano abaixo dos 40% do PIB. Não é pouca coisa.

No entanto, são notórias as incertezas no câmbio, no crédito, no comércio exterior e no nível dos investimentos. O produtor e o comerciante já não sabem que preço etiquetar na mercadoria. Os bancos não têm problemas patrimoniais, mas há dezenas de pequenos e médios com problemas de caixa. A construção civil e a indústria automobilística, dois dos motores da economia, passam por forte desaceleração.

Diante desse quadro, não é hora de extravagâncias. O mínimo que qualquer administrador de patrimônio tem de fazer é operar suas disponibilidades de modo a deixar alguma folga para o imponderável e as surpresas de horas assim.

E, dados os trâmites por encaminhados, se você optar por bom chope, não dirija.

Confira

Efeméride -
No dia do 79º aniversário do grande crash da Bolsa de Nova York, as bolsas globais viveram um dia de cão. No gráfico, você tem como fecharam oito delas. Mas são crises diferentes. Desta vez, por exemplo, os governos atuam.

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