Estadao on line-Blog
Israel estuda assinar um acordo de não-agressão com os libaneses. O Líbano não respondeu, mesmo porque a proposta não é oficial. Os dois países têm uma série de disputas. De um lado, os libaneses querem que Israel desocupe as fazendas de Shebaa e uma parte da cidade de Ghajar, além de parar de uma vez por todas de violar o espaço aéreo libanês, que os israelenses não respeitam. Do outro, Israel quer que o Hezbollah se desarme e o Exército do Líbano, com apoio da Unifil, assuma as responsabilidades por todo o território.
Ambos têm razão. Mas vamos por partes. No Líbano, grande parte da população, incluindo o governo, quer que o Hezbollah se desarme. Nem tanto por causa de Israel. Mas porque o grupo incomoda muita gente internamente. O problema é que a organização xiita se recusa a a entregar as armas enquanto Israel não sair das áreas libanesas que ocupa. Um desarmamento forçado do Hezbollah por parte da ONU ou do governo libanês é impossível. Israel passou anos e anos no sul do Líbano, com um dos Exércitos mais bem treinados do mundo, e o máximo que conseguiu foi fortalecer ainda mais o Hezbollah. A própria ONU, em comunicado, disse que o desarmamento da organização xiita libanesa tem que fazer parte de um acordo político.
Já Israel ocupa as fazendas de Shebaa por que? Porque, para os israelenses, a área é síria. Uma extensão das colinas do Golã. Portanto, segundo Israel, eles não ocupam o território libanês. E o Golã, oficialmente, foi uma área que Israel diz ter conquistado e anexado por questões de segurança após uma guerra em que foram atacados pelos sírios. A devolução apenas ocorreria mediante um acordo de paz com Damasco.
Até pouco tempo atrás, Israel era amparado pela ONU ao dizer que a área era síria. Porém a Síria afirma que as fazendas são do Líbano. Esta informação já foi dita a mim abertamente pelo ministro da Informação da Síria e pelo embaixador de Damasco em Washington. Agora, as Nações Unidas estão realizando um estudo para determinar de quem é o território. Os israelenses dizem ser jogo de cena dos sírios para incomodar Israel, pois, antes do conflito, a Síria realmente reivindicava área em disputa territorial com o Líbano.
Mas, notem, o território é sírio ou libanês. Certamente, não é israelense. Já que o Hezbollah usa a ocupação como argumento, por que não sair e deixar o grupo xiita com um discurso vazio? Como o Hezbollah argumentará internamente que é uma resistência libanesa contra a ocupação israelense, se Israel não estaria mais no Líbano? O grupo já tem a oposição de pelo menos metade da população libanesa. Sem o argumento de ser uma resistência, o apoio à organização carregar armas deve diminuir ainda mais.
Tzipi Livni, ministra das Relações Exteriores de Israel, sabe disso e está disposta a sair de Shebaa, conforme ficou claro pela entrevista do chefe do departamento político do de seu ministério ao soltar a informação sobre o estudo do acordo de não-agressão.