Na semana passada, houve princípio de corrida aos passivos de alguns dos principais bancos, acionado pela boataria e, principalmente, pela desinformação.
A questão mais séria não foi o envolvimento do setor com operações hipotecárias de alto risco no exterior. Foi a exposição a operações com derivativos no câmbio futuro. O imaginário compôs um quadro em que um punhado de grandes bancos tomou posições na perna errada da aposta cambial e caminhava vertiginosamente para o precipício.
A resposta do Unibanco e do Itaú, dois dos visados pela boataria, foi acionar o que tem de ser feito nessas horas. Apelaram para a transparência e abriram suas contas. Anteciparam a divulgação dos balanços trimestrais e deram ampla publicidade às suas posições com derivativos de câmbio. O Bradesco não precisou antecipar seu balanço, mas também cuidou de que nenhuma dúvida pairasse sobre o assunto.
Com isso, o banqueiro brasileiro, que cultiva um vício dos tempos em que a capacidade de enrustir era tida como virtude, deve ter entendido que é preciso ser mais franco com a sociedade e com o mercado.
O BC contribuiu decisivamente para dissipar as especulações ao trabalhar com eficiência o número mágico que circulava na praça. Não eram US$ 50 bilhões as posições a descoberto com derivativos de câmbio? Pois, então, o mercado tem à disposição US$ 50 bilhões em títulos de dívida com correção cambial. Com isso, as águas do câmbio podem agora voltar ao leito anterior do rio.
É cedo para tirar outras lições dos desdobramentos da crise até aqui, mas há pelo menos três avaliações a fazer.
A primeira é a de que o governo exigiu coisas incompatíveis. De um lado, pretendeu que grandes bancos comprassem carteiras de crédito de pequenos e médios (há cerca de cem deles no País) e, ao mesmo tempo, reativassem suas próprias linhas de crédito. Assim, além de manter munição para combater a corrida a seu caixa, os bancos precisavam juntar recursos para comprar carteiras de empréstimo. Convenhamos que, assim, a reativação do crédito fica mais difícil.
De outro lado, o BC conseguiu quebrar o tabu de que o compulsório (dinheiro do depositante que deve ser recolhido ao BC) mais alto do mundo (45%) pode ser reduzido sem que o sistema bancário desmorone.
Os bancos puderam reduzir suas reservas (outro nome para o compulsório) desde que comprassem carteiras de crédito de outros bancos. Também foi incentivada a incorporação de instituições financeiras com crise de liquidez.
O resultado dessa ação em pinça será forte concentração bancária, tanto no setor público como no privado. É um processo que parece inevitável. Mas a principal conseqüência será a redução da competição, que se pretendia ampliar para que pudessem cair também o spread (diferença entre juros de captação e juros nos empréstimos) e as tarifas, dois componentes que vêm aumentando substancialmente o custo de produção no Brasil.
Confira
Subindo - O Banco Central argentino vai tendo dificuldades para evitar a escalada do dólar no câmbio local. Apenas em outubro, a moeda americana já subiu 7,6% em relação ao peso.
Essa alta empurra as exportações. No entanto, a queda dos preços em dólar das commodities é maior do que a desvalorização cambial na Argentina.
O maior impacto dessa queda de preços ocorre na área fiscal. É o governo perdendo receitas com o Imposto de Exportações (retenciones), que correspondem a cerca de 13% de uma arrecadação anual de cerca de US$ 100 bilhões. E isso tem conseqüências políticas.