Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 25, 2008

Maria Helena Rubinato Ajuda-memória


De origem francesa, povo obcecado pelo método como única forma de chegar ao âmago das coisas, “ajuda-memória” é expressão profundamente rica: é um guia para examinar aquilo que passou, de forma ordenada. Vamos à que me ajudou.

A beleza do Rio é esplendorosa. Mário Quintana dizia que os túneis cariocas eram importantes, pois davam tempo dos olhos descansarem de tantas maravilhas. Essa beleza alimenta nosso espírito, mas não alimenta nossos filhos, nem lhes dá segurança. Sosseguem que não vou descrever aqui os problemas, as necessidades, o desamparo, as agruras pelas quais os cariocas vêm passando. São por demais conhecidos.

Ontem vimos aqui a opinião de José Dirceu. Ele pretendia desancar Fernando Gabeira e mostrar que os cariocas não devem votar no homem que colaborou para que ele não ficasse preso mais tempo. Mas não diz uma palavra, nem uma nem duas, para nos convencer a votar em seu candidato.

Já que ele não fala, falo eu. Ouvi falar de Paes, pela primeira vez, em casa dos pais de um amigo dele. Ali, num papo, soube que o rapaz namorava Daniela Maia, filha do prefeito Cesar Maia. O namoro não vingou, mas a amizade, sim, e o prefeito resolveu dar um empurrão na carreira do rapaz. Que foi um pupilo exemplar: aprendeu todas as lições do mestre e hoje fala no mesmo tom de voz, do mesmo jeito, inicia as frases e responde às perguntas de tal modo semelhante ao ex-chefe que, de olhos fechados, voltei no tempo e me lembrei da época em que o prefeito não era ex-blogueiro e sim, prefeito.

Paes fez uma carreira e tanto. Em 16 anos, 6 partidos e, dizem as más línguas, dois times de futebol, foi subprefeito da Barra, secretário municipal, deputado federal, e hoje é candidato à Prefeitura do Rio: a mudança de time eu não garanto, mas parece que hoje ele torce pelo Vasco. Quem me informou foi meu porteiro, que é vascaíno roxo, mas nem por isso vota no colega de torcida.

Como falar numa vida tão rica sem uma ajuda-memória? Impossível. A sorte me ajudou: ontem, Noblat postou frases ditas pelo jovem deputado quando ainda era do PSDB. São todas de 2005, da época da CPI dos Correios, a chamada Mensalão. Do presidente Lula ele diz, entre outras coisas: “presidente das trapalhadas mil”; “faz cara de menino abandonado” (essa é minha favorita!); “o PT e o presidente Lula utilizam estratégia malufista”; “Lula exagera nas mentiras para se convencer que são verdades”; “é demagogo, populista, autoritário e está levando esse país à bancarrota”.

Eu me lembrava que ele acusou o presidente da República, durante a mesma CPI, de ser o “chefe da quadrilha”, mas tinha esquecido as frases acima citadas, proferidas pelo atual amigo do José Dirceu. A quem dedicou, ainda naquela CPI, a seguinte pérola: "Há provas documentais e testemunhais para pedir o indiciamento de José Dirceu”.

Isso foi há três anos. Muita água passou, muita areia, e muito lodo. Agora, a coisa é diferente. Agora o importante é formar um triunvirato no Rio: o chefe da Nação, o governador do Estado e o prefeito da Capital, unidos, quais três mosqueteiros. Será que José Dirceu pretende ser o d’Artagnan: um por todos, todos por um?

Palavras o vento leva, é o ditado. Hoje, candidato a uma eleição que acordou a cidade anestesiada, Eduardo Paes lembrou-se que o passado não conta, e desatou a dizer muitas coisas sobre Cesar Maia. Nenhuma delas é um “obrigado por me dar uma chance”. E a única acusação que faz a seu concorrente é que ele tem o apoio de Cesar Maia!

Paes, em vez de se preparar e apresentar propostas consistentes no debate, ficou preocupado em jogar cascas de banana para Gabeira escorregar. A mais finória foi a “inhoaíba”. A mais grave, pois beira a chantagem, frisar inúmeras vezes que ELE terá o apoio de Lula e Cabral, e que sem esse apoio, a cidade fica ingovernável.

Nós, eleitores cariocas, não caímos nessa. O Lula de bobo não tem nada e tem um faro político fantástico. Tenho para mim que lá dentro de sua alma, ele prefere Gabeira ao Eduardo “Inhoaíba” Paes.

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