Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 28, 2008

''Lula e PT foram derrotados no domingo''

''Lula e PT foram derrotados no domingo''

Presidente acreditava que sua popularidade seria suficiente para eleger seus candidatos, mas foi surpreendido pelas urnas


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acreditou que sua popularidade, em alta, seria suficiente para eleger os candidatos que apoiasse e foi surpreendido pelas urnas. Essa é a opinião do historiador Marco Antonio Villa, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos. Para ele, os grandes perdedores das eleições municipais de domingo foram o presidente e o projeto político do PT.

De acordo com as primeiras análises o governo perdeu espaço político nas eleições de domingo. O senhor concorda?

É difícil dizer se o governo perdeu ou não, considerando sua ampla base, com mais de uma dúzia de partidos. É certo, porém, que o projeto político do PT perdeu. O presidente Lula foi surpreendido pelos resultados do domingo. A primeira grande surpresa foi São Paulo, onde imaginou que sua candidata poderia ganhar e ela teve menos votos do que na última eleição. No Rio, o presidente apoiou o bispo Marcelo Crivella, do PRB, que nem sequer chegou ao segundo turno. Em Belo Horizonte, o candidato apoiado pela seção estadual do PT venceu só no segundo turno, mesmo enfrentando um opositor fraco. Em Porto Alegre, cidade administrada mais de uma vez pelo PT, a derrota teve proporções enormes: José Fogaça foi o primeiro prefeito reeleito naquela capital desde 1945. Em Salvador, o presidente apoiou o petista Walter Pinheiro, outro derrotado.

E o caso de Fortaleza?

A prefeita Luizianne Lins reelegeu-se sem o apoio do presidente. Foi uma vitória pessoal da candidata e da corrente da qual faz parte, não de Lula. Por esse quadro, que eu mencionei, pequeno, mas com colégios eleitorais importantes, pode-se dizer que o PT e Lula não foram vitoriosos.

Como entender isso diante da enorme popularidade de Lula?

As pesquisas sobre popularidade registram um apoio político maior do que o existente na realidade, porque são feitas sem o contraditório. Não são produto de discussão política, como ocorre no processo eleitoral. Lula achou que, dada sua popularidade, bastaria apoiar um candidato para que fosse sagrado pelas urnas. O pior é que a oposição também acreditou nessa falácia.

É uma lição para 2010?

O PT vai pensar com mais cuidado na escolha de seu candidato para a Presidência. Será mesmo a Dilma Rousseff? Se alguém quiser dar nome a um poste, pode chamá-lo de Dilma. Ela nunca foi eleita para um cargo representativo, não tem experiência eleitoral. Como pretendem jogá-la na eleição de 2010, que se anuncia como a mais disputada da história republicana do Brasil?

O partido teria outras opções?

Eles não têm muitas escolhas. Boa parte da liderança do partido foi abatida pelo mensalão: José Dirceu, José Genoino, Antonio Palocci, João Paulo Cunha e outros. E não houve renovação: os nomes mais expressivos do PT são de pessoas que ajudaram na sua fundação, 25 anos atrás. Se eu fosse do governo, um dos nomes que pensaria como pré-candidato é o do Patrus Ananias. Ele assumiu o controle do maior programa assistencial do ocidente, um programa que vinha naufragando nas mãos da Benedita da Silva, e conseguiu torná-lo eficiente - sem entrar no mérito do programa.

Em que medida a crise econômica mundial, que começa a ter efeitos no Brasil, influirá na sucessão?

A crise ainda está no começo. Se atingir o Brasil fortemente, como parece que vai atingir, um dos efeitos será a queda da popularidade do presidente. Quando isso ocorrer, o primeiro partido a sair da base do governo será o PMDB, que é um aliado dos bons momentos: quando vê uma tempestade, ainda ao longe, o PMDB é o primeiro a abandonar o navio. Isso fará com que o partido chegue ainda mais dividido em 2010, mais sujeito às decisões dos caciques regionais. Hoje sabemos que Jarbas Vasconcelos, de Pernambuco, apóia José Serra para a Presidência, enquanto Roberto Requião, do Paraná, apóia quem Lula indicar. Numa situação como essa, com a queda da popularidade e perdas na base de apoio, a possibilidade de vitória de um candidato indicado por Lula diminui ainda mais.

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