Domingo de manhã, eu já tinha votado, não sabia ainda quem seria o prefeito, nem aqui nem em qualquer outro município neste segundo turno, mas já sentia ganas de apostar que, contando o país todo, o maior vencedor das eleições seria o PMDB.
E foi. Ele é um partido singular por muitos motivos, a começar pelo nome.
Onde já se viu uma organização política que atende por “partido do movimento”? Democrático e brasileiro, faz sentido.
Mas movimento, em política, é praticamente a mesma coisa que partido.
O MDB poderia ter continuado assim mesmo, como nasceu das mãos de Ulysses Guimarães, sem qualquer perda de legitimidade semântica. Mas, por alguma razão estratégica, a redundância num dado momento deve ter sido necessária. Com certeza, absolutamente necessária. O doutor Ulysses jamais pregou um preguinho que fosse sem toda a estopa disponível.
Com ele e depois dele, o partido do movimento não parou de crescer. O que também acaba de acontecer nesse domingo, como a soma dos principais resultados municipais deste outubro acaba de provar.
Pena que a boa saúde do PMDB reflita — talvez não sempre, mas com notável freqüência — o êxito de uma dedicação à sobrevivência a qualquer preço. Muito mais do que o vigor de um conjunto de princípios, idéias e propostas.
Dependendo do estado e do município, o partido tem sempre a cara e os desejos de seus homens fortes locais.
Em outras legendas, diferenças de postura e projetos podem ser fraquezas; isso é bastante comum no PT, por exemplo.
Mas no PMDB, elas de alguma maneira acabam sendo instrumentos da sobrevivência e do crescimento.
Provavelmente por isso mesmo, e refletindo também os resultados destas eleições municipais, a aliança no plano federal continua a ser provável na sucessão de Lula. Afinal, os peemedebistas não têm — pelo menos por enquanto — qualquer nome de peso nacional para jogar na arena. Mas há outras manifestações de poder também apetitosas e pródigas em dividendos políticos. O pessoal do PT já prevê, e teme, que o PMDB deve entrar com apetite na briga para fazer tanto o presidente da Câmara como o do Senado.
A propósito, no domingo mesmo o presidente do partido, Michel Temer, dizia que o partido passara a ser indispensável para o governo — e negava qualquer intenção de “colocar a faca no pescoço do presidente Lula”.
Quando alguém sente a necessidade de garantir uma coisa dessas a propósito do chefe do governo, prudentes presidentes encomendam uma dúzia de camisas com colarinho de aço.
Entrevista:O Estado inteligente
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