27/10/2008
Paul Krugman
Colunista do The New York Times
Talvez as pesquisas e o senso comum estejam completamente errados e John McCain vai superar o impressionante revés. Mas nesse momento, a eleição parece um arrastão azul [cor do Partido Democrata]: uma vitória sólida, talvez até mesmo avassaladora, de Barack Obama; grande avanço dos democratas no Senado, possivelmente até suficiente para produzir uma maioria à prova de obstrução; e grande avanço democrata na Câmara dos Representantes também.
Ainda assim, há apenas seis semanas a corrida presidencial parecia acirrada, com McCain até um pouco na frente. O ponto de virada aconteceu na metade de setembro, que coincidiu exatamente com a intensificação repentina da crise financeira depois da falência do Lehman Brothers. Mas por que a crescente crise financeira e econômica trabalhou de forma tão surpreendente para a vantagem dos democratas?
Como alguém que passou um grande tempo argumentando contra os dogmas econômicos conservadores, eu gostaria de acreditar que as más notícias convenceram muitos americanos, de uma vez por todas, que as idéias econômicas da direita estão erradas e as idéias progressistas estão corretas. E com certeza há algo disso. Esses dias, até mesmo com Alan Greenspan admitindo que estava errado em acreditar que a indústria financeira poderia se auto-regular, a retórica ao estilo Reagan sobre a magia do mercado e os males da intervenção governamental soou ridícula.
Além disso, McCain parece espetacularmente incapaz de falar sobre economia como se isso fosse importante. Ele vem tentando atribuir a culpa da crise em seu problema preferido, as reservas do orçamento do Congresso - o que deixa os economistas coçando a cabeça de perplexidade. Logo após a falência do Lehman, ele declarou que "as bases da nossa economia são fortes" sem saber que estava repetindo o que Herbert Hoover disse depois da crise de 1929.
Mas suspeito que a principal razão para a virada dramática nas pesquisas seja algo menos concreto e mais metafórico do que o fato de que os eventos desacreditaram o fundamentalismo do mercado livre.
Conforme o cenário econômico tornou-se mais sombrio, eu diria que os americanos redescobriram a virtude da seriedade. E foi isso que trabalhou a favor de Obama uma vez que seu oponente fez uma campanha sem muita seriedade.
Pense sobre os temas da campanha de McCain até agora. McCain nos lembra, o tempo todo, de que ele é um rebelde - mas o que isso significa? Sua rebeldia parece se definir como um traço de personalidade flutuante, mais do que um compromisso com objeções pessoais em relação à forma que o país foi governado nos últimos oito anos.
Por outro lado, ele acusou Obama de ser uma "celebridade", mas sem nenhuma explicação específica do que há de errado com isso - apenas uma crença de que nós devemos odiar os tipos de Hollywood.
E a escolha de Sarah Palin como candidata à vice-presidente republicana claramente não teve nada a ver com o que ela sabia ou as posições que ela defendia - teve a ver com quem ela era, ou parecia ser. Os americanos deveriam se identificar com uma americana comum que era exatamente como eles.
De certa forma, não dá para culpar McCain por fazer campanha sobre trivialidades - afinal, isso funcionou no passado. Mais notavelmente, o presidente Bush aproximou-se da Casa Branca depois de uma eleição questionável apenas porque boa parte da imprensa, em vez de focar nas propostas políticas dos candidatos, focou em suas personalidades: Bush era um cara amigável com quem você gostaria de tomar uma cerveja, Al Gore era um sabichão rígido, e pouco importava toda aquela coisa difícil sobre impostos e Seguro Social. E vamos encarar: há seis semanas o foco de McCain nas trivialidades parecia estar sendo bem recompensado.
Mas isso foi antes que a perspectiva de uma segunda Grande Depressão tomasse conta da mente do público.
A campanha de Obama tampouco foi livre de superficialidades - no início ela estava cheia de um enaltecimento vago. Mas o que os eleitores de Barack Obama vêem agora é alguém tranqüilo, calmo, intelectual e bem informado, capaz de falar com coerência sobre a crise financeira de uma forma que McCain não consegue. E quando o mundo parece estar ruindo, você não quer um cara com quem possa tomar uma cerveja, você se volta para alguém que pode de fato saber como consertar a situação.
A resposta da campanha de McCain para o declínio de suas chances de vitória foi reveladora. Em vez de tentar defender que McCain é na verdade mais bem qualificado para lidar com a crise econômica, a campanha tem feito tudo o que pode para banalizar as coisas novamente.
Obama está associado a radicais dos anos 60! Ele é um socialista! Ele não ama a América! A julgar pelas pesquisas, não parece que está funcionando.
Será que a demanda da nação por seriedade irá durar? Talvez não - lembram de como o 11 de setembro deveria ter acabado com o foco em trivialidades? Por enquanto, todavia, os eleitores parecem focados nos assuntos reais. E isso é ruim para McCain e para os conservadores em geral: nesse momento, parafraseando Rob Corddry, a realidade tem uma tendência liberal clara.
Tradução: Eloise De Vylder
Entrevista:O Estado inteligente
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