Nos anos 50, o 3D queria tirar a platéia da frente da
TV. Agora ele está de volta para competir com o DVD
Isabela Boscov
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Em Viagem ao Centro da Terra (Journey to the Center of the Earth, Estados Unidos, 2008), que estréia nesta sexta-feira no país, a platéia toma sustos sem parar: sofre ataques de dinossauros e piranhas voadoras, leva cusparadas do protagonista Brendan Fraser, é projetada contra paredes e despenca em poços de profundidade ignorada. Essa, claro, é a graça da versão do filme em 3D, que será exibida nos cinemas nacionais que dispõem do sistema (as outras salas recebem cópias convencionais, a exemplo do que foi feito em fitas como A Família do Futuro e A Lenda de Beowulf). A aposta de Hollywood é que essa graça se torne cada vez mais freqüente. Desde que o formato voltou à voga, nos anos 90, ele vinha sendo usado quase que só em animações e em produções específicas para a tela gigante do Imax. Agora, em um nível de aprimoramento com que nem se sonharia até pouco tempo atrás, ele começa a ser aplicado também ao live-action, os filmes com atores de carne e osso, em cenários muitas vezes reais. Isso porque os projetores estão cada vez mais sensíveis e luminosos, os óculos de cristal líquido não causam aquele enjôo dos antigos, feitos com celofane em duas cores, e as câmeras ficaram mais ágeis (em boa parte graças às invenções de James Cameron, que, sem lançar um longa desde Titanic, prepara para o fim de 2009 a ficção científica Avatar, logicamente em 3D).
O 3D teve um breve apogeu na década de 50 (veja o quadro abaixo), quando o cinema precisou arrancar os espectadores da frente da recém-nascida televisão. Agora, os vilões são outros: o DVD e seu comparsa, o home theater. Mais da metade do faturamento da indústria de cinema americana já vem do DVD. Em edição revista e muitíssimo melhorada, então, o 3D retorna com a mesma missão de antes: fazer o público sair de casa e pagar ingresso. Não que o formato não seja ainda desafiador, em vários sentidos. Primeiro, porque as salas preparadas para ele são poucas até nos Estados Unidos – menos de 1 000 telas, de quase 39.000 – e equipá-las custa caro, o que causa resistência entre os exibidores. Isso implica outro gasto adicional, este para os produtores: rodar simultaneamente duas versões do mesmo filme, uma em 2D e outra em 3D.
Também não é qualquer cineasta que pode se aventurar nessa seara. O efeito tridimensional é obtido por meio de uma câmera com duas lentes, as quais captam imagens diferentes da cena ou do objeto à sua frente – à semelhança do que faz o olho humano. O sistema exige imenso conhecimento das leis da óptica, e só realizadores de perfil tecnológico, como Cameron e Robert Zemeckis (de O Expresso Polar e Beowulf), são capazes de lidar com ele sem perder a cabeça para o básico – contar a história. Eric Brevig, do simpático e pioneiro Viagem ao Centro da Terra, segue essa linha. Estreante na direção, ele acumula, contudo, mais de duas décadas de tarimba como supervisor de efeitos visuais. "Só recomendo o 3D a quem manje muito, mas muito mesmo, de técnica", disse Brevig a VEJA. "De outra forma, o filme fica ruim – e o diretor fica louco."
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