do Brasil foram tratados
nas páginas da revista
Retrato de um Brasil gigante
Luigi Mamprim |
O índio gigante (à dir.) e a capa da tragédia ianomâmi: cobertura histórica |
A imagem ao lado é histórica. Produzida pelo fotógrafo Luigi Mamprin, ela registra o primeiro contato do homem branco com os crenacarores – conhecidos como índios gigantes. Estampada na capa de VEJA de 14 de fevereiro de 1973, foi o registro dos esforços dos sertanistas Orlando e Cláudio Villas Boas para contatar a tribo em Mato Grosso. Reportagens como essa, em que os jornalistas de VEJA viajaram pelo Brasil para registrar um acontecimento ou descrever o impacto de grandes processos econômicos ou sociais em diferentes regiões do país, são uma tradição de que a revista se orgulha. Os índios estão entre os temas brasileiros que mereceram cobertura regular ao longo de quarenta anos. As páginas seguintes ressaltam outros sete assuntos aos quais VEJA retornou de maneira sistemática: a Amazônia, a busca da auto-suficiência nos combustíveis, a seca no Nordeste, o garimpo, a fuga das grandes cidades para o interior, a expansão do agronegócio e os movimentos radicais no campo.
Os dilemas da Amazônia
Marlene Bergamo/Folha Imagem |
Devastação da floresta atual e capa dos anos 70 sobre a Amazônia (à esq.): preservar com progresso |
Em sua primeira reportagem de capa sobre a Amazônia, em outubro de 1970, VEJA já apontava o peculiar desafio brasileiro: encontrar formas de conciliar a preservação da maior floresta tropical do mundo com o desenvolvimento do potencial econômico de uma região que representa 60% do território nacional. Naqueles tempos, o regime militar empenhava-se em levar "o progresso para a selva" por meio de estradas como a Transamazônica e de projetos como a hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. A reportagem registrava a euforia com que os aventureiros atendiam ao chamado do governo para desbravar aquela fronteira do país. Mas os problemas decorrentes da exploração predatória e do caos fundiário não demoraram a explodir. Em dezenas de reportagens ao longo de quarenta anos, nove capas e uma edição especial, a revista denunciou o efeito devastador das queimadas e a extração ilegal de madeira, assim como o avanço desordenado da pecuária e das lavouras de soja nas bordas da Amazônia. Em março de 2008, quando o desmatamento atingiu 17% da cobertura original, VEJA publicou uma série de reportagens que oferecem um panorama abrangente dos problemas que concorrem para a devastação. Chamou atenção para ações contraditórias do governo, que, ao mesmo tempo em que busca reprimir o desmatamento, contribui decisivamente para ele ao promover assentamentos de sem-terra em áreas de floresta. A conclusão é que hoje existem leis, saber científico e sistemas de vigilância suficientes para permitir a ocupação da Amazônia sem alterar substancialmente seu biossistema.
O salto energético
O.Brito |
Campo da Petrobras e capa sobre o álcool (à esq.): tudo mudou |
Na área dos combustíveis, o Brasil mudou profundamente desde o surgimento de VEJA, em 1968. Como atestam as primeiras reportagens sobre o tema, a exploração de petróleo em larga escala passou de mera promessa nos anos 70 a realidade na década seguinte, com os progressos da Petrobras na prospecção em águas profundas. A revista aplaudiu avanços como a quebra do monopólio da estatal, nos anos 90. Mais recentemente, expôs quanto há a comemorar (e quanto foi pura pirotecnia do governo federal) no anúncio dos novos megacampos da Bacia de Santos. A outra ponta dessa revolução energética é o álcool. A transformação do Brasil em líder mundial na produção do biocombustível não foi batalha fácil. Se no começo da década de 80 o álcool era uma esperança para diminuir a dependência do país em relação ao petróleo importado, ao fim daqueles anos o projeto parecia fadado ao ocaso. Ressurgiu das cinzas, contudo, com a entrada em cena dos carros flex – uma vitória que deve ser creditada ao investimento no saber, como apontou VEJA numa capa de 2006.
Tragédia anunciada
Em 1981, 1983 e 1998, VEJA dedicou reportagens de capa à tragédia da seca no Nordeste. A mais séria intempérie natural do país é um fenômeno cíclico – e, como não cansou de ressaltar a revista, perfeitamente previsível. A fome e a miséria no semi-árido nordestino têm, portanto, tudo a ver com o descaso nas várias esferas governamentais. A seca é um problema que, felizmente, deixou de freqüentar o noticiário de alguns anos para cá. Mas isso não significa que seus efeitos não possam voltar com força no futuro. E a única solução de longo prazo que as autoridades apresentaram para ela até hoje – a transposição das águas do Rio Francisco – continua longe de se tornar realidade.
A nação do garimpo
Flávio Canalonga |
O garimpo mereceu atenção nas páginas de VEJA. A foto abaixo ilustrou uma capa de 1988 sobre o maior desses fenômenos: a corrida ao ouro de Serra Pelada. A promessa de riqueza atraiu 100 000 brasileiros à jazida do tamanho de dois estádios do Maracanã que se abriu nessa região do Pará. A matéria flagrava o local num momento melancólico de esgotamento de suas reservas. Em várias outras ocasiões, a revista denunciou o caráter clandestino e a violência que acompanham o garimpo, praticado muitas vezes em conluio com os índios.
Fuga para o interior
Claudio Rossi |
Festa de peão e reportagem dos anos 70 (à dir.) sobre caos urbano: inversão de rumos |
Na década de 70, VEJA advertia sobre os sinais de deterioração da qualidade de vida nas metrópoles brasileiras. "Há salvação para as grandes cidades?", questionava a manchete de capa de 18 de abril de 1973. Desde então, problemas como o trânsito caótico e a violência só cresceram na maioria das metrópoles do país, de São Paulo a Fortaleza. Mas um contraponto alentador surgiu no horizonte: visto até meados do século XX como sinônimo de pobreza e atraso, o interior aos poucos se transformou na imagem do Brasil que prospera. A partir dos anos 80, diversas reportagens de capa apontaram uma tendência clara: moradores das capitais estavam se mudando para cidades menores em busca de bem-estar. A força crescente do agronegócio e a migração de indústrias para o Centro-Oeste e o Nordeste produziram oportunidades de emprego e enriquecimento em lugarejos inexpressivos há questão de uma década. Para além dos atrativos econômicos, o interior passou a acenar também com artigos avidamente reclamados por famílias que vivem nas metrópoles superpovoadas, como a segurança e o lazer.
Ameaça radical
Desde suas primeiras invasões de terra e atos de baderna, nos anos 90, o MST e outras agremiações radicais no campo têm seus passos observados por VEJA. Em quatro reportagens de capa sobre o tema, a revista expôs o caráter oportunista e o ideário esquerdista delirante desses movimentos. Com suas agressões ao agronegócio e ao meio ambiente (seus assentamentos são um dos focos de devastação da Amazônia), eles ameaçam a paz e a prosperidade no campo.
O milagre do agronegócio
Leomar José Mees/Novo Tempo |
Lavoura de soja em Mato Grosso: um Brasil sem crise |
O agronegócio é um dos principais motores da economia brasileira. Neste ano, os agricultores do país devem colher uma safra de cerca de 143 milhões de toneladas – o que significará um novo recorde histórico. O Brasil ostenta ainda o maior rebanho bovino comercial do mundo, com 205 milhões de cabeças, e lidera as exportações nessa área. VEJA esteve atenta às transformações dramáticas ocorridas no campo nas últimas décadas. Nos anos 80, três reportagens de capa examinaram como a agricultura levava pujança ao interior do país, apesar das crises econômicas do período. Recentemente, a revista mostrou como a adoção de práticas de gestão modernas permite às empresas brasileiras do setor converter-se em potências globais – caso do frigorífico goiano Friboi, que em meados do ano passado se tornou o maior exportador de carne bovina do mundo ao adquirir o concorrente americano Swift. O salto do agronegócio deveu-se, em boa medida, aos investimentos em pesquisa. O maior exemplo disso é a soja. Há coisa de apenas 35 anos, seu cultivo em escala comercial só era possível nos estados sulinos. Com o desenvolvimento de sementes adaptadas ao clima tropical e a adoção de novas formas de manejo do solo, ela hoje avança (e irradia riqueza) por todo o Centro-Oeste e até as bordas da região amazônica.