Que notícias, você deve estar perguntando, já preocupado com tudo o que está por aí? Serão mais ou menos do tipo: a economia brasileira e mundial crescem menos; as bolsas tropeçam, com grandes perdas e ganhos; os preços dos alimentos disparam aqui e no exterior; a inflação aumenta; os bancos centrais elevam os juros; o desemprego no exterior se acentua.
Será mais ou menos isso.
Mas a coluna recomenda intensamente: por favor, fique atento, mas não se desanime, não fique pensando que tudo vai piorar por um tempo sem fim e você, mais cedo ou mais tarde, acabará sendo atingido de forma insuportável.
Nada disso, leitor. Por favor, encare tudo como de fato as coisas são, o processo natural de desaquecimento de uma economia mundial que vinha crescendo muito e com muita velocidade, num curto espaço de tempo, no máximo seis anos. Na verdade, o próprio mercado vai corrigindo isso, ao lado dos bancos centrais, do Brasil, dos Estados Unidos, da Europa.
No fundo, estamos vivendo apenas uma nova fase, não uma nova era. Passa, como todos os ciclos anteriores que a economia viveu. Seria longo demais enumerá-los aqui. E agora, como vimos na última coluna, estamos bem mais preparados do que nas crises anteriores.
Resumindo, as economias brasileira e mundial vão viver, por mais alguns meses, um período de crescimento menor e inflação maior, do qual o mundo sairá com ferimentos sérios, mas não graves.
ALERTA AO GOVERNO TAMBÉM
Neste momento delicado, é essencial o papel dos governos. Deles dependerá muito a duração desse ciclo. E aqui a coluna toma a liberdade de transferir para o presidente da República o alerta que deu aos leitores. Realismo diante da verdade e sinceridade perante o público.
O governo está errando muito em seu relacionamento com a sociedade no que diz respeito à inflação. A população está meio perplexa. Presidente, uma hora o senhor acerta ao afirmar que a inflação, essa "desgraçada", não pode voltar. Em outra, diz que não devemos perder nem meia hora com ela.
Talvez seus assessores o tenham alertado para diminuir o tom para não assustar muito. Não foram felizes no conselho, presidente.
O senhor deveria ter mantido a mesma linha de intransigência radical com o processo inflacionário.
A sociedade, o povo, sente na pele a inflação, sabe que todos os preços estão aumentando, sabe que esse já não é mais um problema novo, já dura meses. Quer um governo que reconheça isso abertamente e mostre qual é sua firmeza em desmontar o processo que se auto-alimenta por meio da indexação.
Esta é a maior ameaça no momento, para a qual, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, corajosamente, acaba de alertar. O governo tem de reconhecer essa ameaça, não negá-la, nem atenuá-la, como está fazendo ao argumentar que a nossa inflação é a menor entre os países emergentes.
Ora, se China, Rússia, Índia e seja lá quem for quiser uma inflação de 10% ou mais, que tenha, é problema deles, não é nosso. Cada um tem a inflação que quer, aceita e acha que pode suportar. A nossa, presidente, é 4,5% ao ano. Nem um ponto porcentual a mais. E nós a conseguimos com muito sacrifício, ao custo de juros elevados.
Quanto ao desando inflacionário dos outros, nossa estratégia é defender-nos do aumento dos preços dos seus produtos, usando as armas de que dispomos.
Presidente, um erro dos países emergentes, da China, da Rússia, da Índia, de forma alguma pode ser usado para justificar um erro nosso.
SINCERIDADE, SENHORES!
Tudo mostra que o Brasil, como o mundo, tem desafios sérios pela frente. Para enfrentá-los, é preciso sinceridade. O povo, a sociedade quer realismo, quer a verdade. E neste momento, dizê-los cabe ao senhor, presidente, ao governo. Mesmo que a verdade seja amarga, desagradável. Sem preocupações políticas que tanto prejudicam o processo econômico.
O presidente deveria declarar, em entrevista aos jornais, ao rádio e, principalmente, às televisões, que o momento é menos difícil para o Brasil do que para outros países, mas é sério.
Dizer que a economia brasileira, como a mundial, vai crescer menos, mesmo porque havia crescido muito em pouco tempo. Afirmar que a inflação é o desafio "número 1" e que, para combatê-la, todos terão de pagar um preço, o sacrifício da perda de uma parte do poder aquisitivo de suas rendas, mas que isso será passageiro. Afirmar que a inflação está e continuará sendo combatida a ferro e fogo, com o governo na frente, cortando ou adiando gastos.
É preciso dizer claramente a todos que este é um momento difícil, após a euforia do ano passado, e reconhecer que a economia brasileira não estava preparada para crescer tanto em tão curto espaço de tempo. Financiamos antes mais o consumo do que a produção, gerando inflação. Isso agora está sendo corrigido.
É preciso dizer que o sacrifício é curto e os benefícios serão longos, com a retomada do crescimento de forma sustentável e sem inflação no próximo ano.
Dizendo isso, o governo estará sendo sincero, não estará mentindo e a sociedade, o povo, terá uma visão exata da realidade em que vivemos. Acreditará e vai colaborar.
O MUNDO TROPEÇOU EM SI MESMO...
Era isso que a coluna queria dizer aos leitores que, em inúmeros e sucessivos e-mails, perguntam. Afinal, o que aconteceu e por que tão de repente?
Nada grave demais, leitor. Foi apenas que a economia mundial tropeçou nela mesma, entusiasmada, como nós, com o crescimento exuberante de alguns anos. Eles, sem fôlego, levaram um tombo e estão tentando se levantar. Nós claudicamos, perdemos o passo, mas, se o governo agir certo, logo mais nos recuperamos e voltaremos a caminhar.
Enquanto isso, sem nervosismo, sem pânico, e muita calma, à espera da tempestade passar.
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