blog Noblat 12/7
Rio, 2008 ou 1208?
Não vou falar da morte do João Roberto, dor nova. Quando o João Hélio morreu, dor que não esqueço, os bandidos eram civis. Desta vez os algozes estavam fardados. Mas será só deles a culpa? Desses soldados a quem o governador do Estado do Rio chamou de débeis mentais? Ou a culpa é também do poder público, municipal, estadual e federal? Dos Cobradores de Impostos, que é como deveríamos chamá-los, pois que é só para isso que servem?
Zuenir Ventura já nos descreveu como moradores da cidade partida. Infelizmente, porém, a parte afortunada encolheu e a outra, inchou. O contrário seria o futuro, mas estamos é andando para trás.
Ontem, li, enviado por um amigo, um belo texto sobre o Rio. Triste, compara nossa cidade a um centro urbano europeu do século XIII.
"O Rio é hoje uma cidade medieval", assim é o início do relato que tanto me emocionou, posto que verdadeiro e apavorante. O autor está absolutamente certo. Voltamos ao século XIII.
Só não vê quem não quer: ruas sujas, esgoto a céu aberto, um cheiro de urina entranhado até nas esquinas do centro financeiro da cidade, que dirá em bairros afastados. Ambulantes vendendo de comida a animais. Cartomantes e curandeiros. Pregões que incomodam, anunciando coisas do arco da velha. Moradores de rua fazendo tudo que as pessoas fazem em seu dia a dia, mas a céu aberto.
Carros abandonados e carcomidos pelo tempo. Casas desmoronando, sem telhado, pondo em risco os passantes. Animais zanzando, famélicos e imundos. Brigas, tumultos, bandidos à solta. Sexo, de todos os tipos, sendo vendido à luz do sol. Crianças dormindo nas ruas, sozinhas ou em bandos. Assaltos, rotina, e não exceção. A violência explode.
As cadeias também. Cadeias ou masmorras? Lugares onde o criminoso, julgado ou não, é enfiado e se não tiver família que se incomode com ele, vai ficando até definhar. Creio que nossos congressistas, que tanto discursam a favor da igualdade de tratamento entre pobres e ricos, deveriam começar a pensar nas melhoria das condições carcerárias. Se a igualdade realmente vier, e tem que vir, que seja um "igual" melhor para todos.
Muitos não vêm isso que acabo de descrever. Ou porque não querem ver, ou porque vivem em ilhas da fantasia. Palácios cercados com muros e grades, vigias armados, alarmes, holofotes. Quando têm que sair do castelo por motivo de força maior, vão em carros blindados, ou helicópteros, que ninguém é tonto. Não duvido que em breve inaugurem um condomínio com pontes levadiças.
Mas a não ser que seus filhos não se apaixonem por princesas de outras fortalezas, que sua vida fique congelada, que nunca adoeçam, que nunca se aventurem para fora de seu feudo, um dia todos se defrontarão com a cidade como ela é. E a visão não vai ser bonita.